Saturday, September 23, 2006

Estranhamento

Quando viu, não reconheceu. Aliás, quase passou sem cumprimentar. Seria taxado de mal-educado, não tivesse voltado ali, para a saudação. Enrugou a testa. Espichou os olhos, como querendo identificar aquele olhar. Aquela cor de cabelos não lhe caíra bem, pensou. Ou não seria a cor, mas aqueles fios acinzentados? Titubeou. Era isso. A barba. A diferença era a barba. Ficara mais velho assim, ou mais carrancudo. E aqueles óculos.
E se não cumprimentasse? Passaria, apenas. Distraído, não tinha visto. Já não era tido como simpático, não precisaria fazer de conta. Sempre sisudo, cumprimentar nem era mais hábito. As bochechas pálidas moviam-se pouco, como esboço de sorriso. Não deveria sorrir, depois de tudo. Sério, de novo. Andava ocupado, aquela conversa tomaria-lhe tempo. Intrigado, ainda não estava convencido, quase em espanto. Percebeu a mirada, como um convite. Responderia? Esperou. Passasse por insolente, ou até tímido. Confrontar-se com tantas memórias agora era demais. Poderia esticar a mão, não custaria. Vinham as memórias. Devolveu a mão à cintura, ensaiava a saudação.
Teria sussurado um como vai, não fossem os últimos acontecimentos. Mas quantos anos. Ou meses, ou dias. Nem sabia mais. Fazia tempo.Sorriria à sua maneira. Não sabia quando seria a próxima vez, e a imagem não lhe agradava. Poderia apenas cumprimentar, e logo sair, justificando a atribulação do dia. Por vezes, acreditou que não se reencontariam. Naquela época, tantas discussões, rumores. Daria as costas e retornaria a sua vida. Não precisava fazer de conta. Andava ocupado, nem tinha mais tempo. Paciência. Permaneceram uns minutos se olhando, com estranheza. Não havia razão para discórdia, mas sorrir soava até a desaforo. Deboche. Não sorriria, decidiu. Ponto final.
Se dariam por desconhecidos, dali em diante. Era esperado. Há tanto tempo afastados, ocupavam espaços diferentes, e o mesmo. Daí as discussões, a distância necessária depois de tudo, e então o silêncio. Ocupavam o mesmo posto, e mais. Disputas, duelos. Não cumprimentar seria antipático. Sorrir, que hipocrisia.Olhou em volta, ninguém ali. Estivessem numa multidão, seria fácil fazer que nem viu. Só os dois no recinto, não poderia fazer que não tinha reconhecido. Mas sorrir não. Pouca mobília, mas o armário e o sofá imponentes, clássicos, de cor escura, estampa antiga. Tapete fino, aquele, nem se lembrava mais. Pé direito alto, sala ampla. Vazia. E os dois, ali, naquele impasse.
Já foram mais próximos. Na época em que ocupava outro cargo, encontravam-se no elevador, corredores. Era quando se tratavam com alguma simpatia. Uma e outra reunião social, quem sabe. Amistosamente, ou nem tanto. Naquele tempo ele era um tipo mais afável. Depois, afastaram-se. Não propositalmente. Coisas da vida. As correrias de sempre. Foi ficando mais quieto, não se viam mais, nem no elevador. Ajeitou o cabelo, num gesto de desconforto. Lembrava-se de como tudo acontecera. Sim, muitas discussões, desacordos. Nenhuma ruptura formal. Um afastamento natural, a falta de tempo, a rotina turbulenta, seus afazeres. Um ar presunçoso, esse sempre. Fácil de reconhecer, numa multidão de olhares. Agora, parecia envelhecido, testa enrugada, riscos largos. E aqueles óculos, agora. As vistas cansadas. Noites de inquietude solitária. Todos em volta, e ninguém ali. Falava pouco, tinha se tornado homem de poucas palavras. Por isso, se nem desse olá, não faria diferença. Nem rabugento. Insoso, em seus trajes sóbrios.Sempre aquele tom de cinza. Ele cinza.
Sorrir, então, há muito não fazia. E por que deveria sorrir logo ali, com ele? Um cumprimento convencional, pra dizer que fez. Não tinham nada em comum, esqueceram-se da voz um do outro. Sem diálogo. Um silêncio e pronto. Nada a dizer. A falta de assunto, conhecida. Aquele olhar pro relógio, como de quem já deveria ter saído. Atrasado. Disfarçando a falta de assunto, de tudo. E agora os dois. Quem diria, cara a cara. E nada a dizer, só um balbuciar de saudações, o erguer da testa à direita, o outro à esquerda. Sempre contrários. Os cabelos brancos, fios ainda. Semblante imóvel.
Não fora tão fácil reconhecer. Aquela hesitação do início. Muitas mudanças, a evidência da época que passou, tornando-os estranhos. Meros conhecidos. Não que antes fossem próximos, mas bem que havia um tom de simpatia. E então o longo período de distância, não se enxergavam. Sem duelos. Sem notícias. Silêncio. E aquele reencontro, de repente. A surpresa. O reconhecimento. A perplexidade e a incógnita. Quem cumprimentaria primeiro?O esboço de sorriso, seguido das memórias. O desmanchar do sorriso, que nem aconteceu. Más lembranças. Outra época, e tanto afastamento. Era assim. Um movimento dissimulado no rosto, e só. Bastava. O tempo que já fazia. Tinham envelhecido. Nada a dizer.
Saiu, ensimesmado. Mandou trocar o espelho da sala.

Betina Mariante Cardoso








































Tuesday, September 05, 2006

Fico numa tristeza, cada vez que vejo passar um conto.
As palavras marchando num devagarinho. Eu, atordoada, mirava algo do outro lado da folha. Nem sei bem o quê.
Ih, lá vai indo aquele lá. E nem conheci o personagem.
Betina Mariante Cardoso

Thursday, August 10, 2006

Volto pro texto. Horizonte de palavras, e o barquinho ali. Ritmo ainda silente. Balancinho despertando o ruído manso das frases recém acordadas. Sonolentas ainda, frases curtas. Pouca pontuação. Idéias se organizando em fila. Rotina do dia. Vírgulas chegando. A sensação de reticências, que geralmente acompanha a noite, deixa o plantão. E o dia começa, com seu hipertexto.
Betina Mariante Cardoso

Thursday, July 27, 2006

Esqueço por uns dias da rotina, que fica inscrita no hipertexto. Ali. Na volta, se me desmemoriar de todo, acesso palavras chaves que me levam aos textos de mim, me relembrando do lugar onde sento no café, o que como nas terças ao meio-dia, antes de correr para algum outro lugar. Ali, tudo escrito. Horários a serem seguidos, desatinos, destinos. Seqüências. Esqueço de mim por uma semana, e lembro depois. Sem hábitos. Desabitada. Meu hipertexto sabe segredos e paradoxos, nexos causais e total ausência de nexo.Eu, protagonista, desconheço as próximas linhas.Continuidade descontínua. Continua acontecendo em rotina subjacente. Novos parágrafos. Num clique em link desconhecido, nova janela com demonstração de rotina temporária se incorpora.Fotografia. Sou eu, e não sou, fora da rotina do hipertexto. Fora do hipertexto da rotina. Fora de mim. Fora de casa. Fora da frase.
Palavra solta.
Betina Mariante Cardoso

Sunday, July 23, 2006

Já sei que amanhã acordo às 6:00, tomo o café da manhã e saio para o dia. Cenários os mesmos, e outros. Personagens. Trilhas sonoras. A seqüência de trajetos, frenéticos, me transporta. Quase anestesiada, me deixo conduzir. Já sei do pra-lá e pra-cá, de onde ir primeiro e pra onde andar.Vou andando. Hábitos. O Café na esquina da rua tal com a rua tal, o trajeto menos engarrafado ao meio dia. Horário de almoço. A rotina emoldura o dia, e me sinto personagem de mim. Para o capítulo de amanhã, não consegui decorar as falas...Improviso. Hipertexto? clico numa hora do dia, e nova janela abre meus diálogos. Sem seqüência. Clico, e alguns hábitos aparecem em lista. Deleto. Improviso cenários, discursos, fundos musicais ondulados. Improviso hábitos, reconstruo alguns. Desconstruo a lista, inverto a seqüência. Confundo. Sem hábitos. Nua. Caminho sem saber pra onde vou, montando mapas com os passos. Logo, sigo os passos e acabo chegando aos mesmos lugares, quase sem sentir. E nova rotina. Como se escreve?Parecemos alheios, e sem perceber fazemos parte de novos textos, que mesmo esquecemos de onde surgiram. Hipertexto.
Confira a seguir...
Betina Mariante Cardoso

Tuesday, July 18, 2006

O Hipertexto da Rotina

Glossário


Hipertexto:Forma de apresentação ou organização de informações escritas, em que blocos de texto estão articulados por remissões, de modo que, em lugar de seguir um encadeamento linear e único, o leitor pode formar diversas seqüências associativas, conforme seu interesse.

Seqüência: Ato ou efeito de seguir; seguimento, continuação; série, sucessão.

Rotina: Seqüência de atos ou procedimentos que se observa pela força do hábito.

Hábito:Disposição duradoura adquirida pela repetição freqüente de um ato,uso, costume.

Fonte: Aurelião

Confira a seguir...

Betina Mariante Cardoso

Monday, July 10, 2006

A personagem, uma acensorista. Cenário óbvio. Não só cenário do texto. Cenário da acensorista. Impossível imaginá-la enquadrada em outra moldura. Aquela. Elevador. Existe para o elevador. Quando quer, não deixa ninguém entrar, com alguma desculpa.Ou sem qualquer desculpa. Decide. Ali, ela decide. E os passageiros, meros transeuntes de um cenário só seu. Agora não entra ninguém. E não entra mesmo. O elevador vai descer primeiro, e mesmo que alguém ouse querer uma viagem mais longa, ela decide que não. Cena curiosa. Vezes, sozinha, deve fazer percursos do oitavo pro décimo terceiro andar, imaginando. Longos trajetos, de um andar a outro. Em permanente sobe-desce, percorre a si mesma. Hoje, em profundo suspiro, queixou-se da correria do dia. Correria vertical, pensei. E me pus a imaginar um dia inteiro ali, apertando botões. Abrindo e fechando portas. Só os outros entram e saem. Ela fica. Tem seu céu particular, um universo único a disposição. Gentes que vêm e vão. Elevadores cheios. Vazios. Só ela. Sobe. Desce. Desce.Sobe. Ningém sobe!Está descendo!E decide não passar ali de novo, pra quebrar a rotina.Ficar sozinha pra pensar.Ela. E sua multidão. Correria, Stress de elevador. Como deve ser o stress de elevador...? Interessante que a moça pertence àquela figura, parece moldada à argila naquele banco. Precisa decidir. Subir ou descer. descer primeiro e subir depois. Ou vice-versa. Imersa na luz opaca. Som abafado. Várias vozes, conversas, cenários outros. Que ela ouve, vê. Dá bom dia se quiser, mas vezes nem bom dia quer dar. Certa vez, chorava copiosamente. Só eu no elevador. Que cena. Mas admira sua intimidade com aquele percurso. E a queixa da correria. Impacto. Correria? Eu por alguns minutos me vi imersa em sua correria, esquecendo a minha. Imersa em cenário insólito, onde falta figurino, trilha sonora, personagens. Nós, figurantes. Ela, monólogo. Enredo? Nada muito peculiar que mereça um conto, mas espichei um olhar além, observando aquele universo só seu.
Betina Mariante Cardoso

Saturday, July 08, 2006

Tedioso adentrar o branco da página, ficar em branco também. Sem assunto. Busco palavras. Parágrafos. Não são conto, crônica, romance. Palavras. Em branco. Caminho pela folha, percorro labirintos cá e lá. Labirintos em branco. Palavras em branco. E então, a escrita. O branco.
Betina Mariante Cardoso

Monday, July 03, 2006

De repente, a mesma rua. Me vi, ali. Todas as idades. Jerônimo Coelho. Entre a Borges de Medeiros e a Praça da Matriz. Nasci ali. E Era assim que anunciava o endereço. Exatamente como me sentia. Entre a Borges e a Praça da Matriz. Ali, meu mundo infantil. A banca onde comprava as figurinhas dos álbuns, a esquina onde esperava o ônibus da escola. Mais. A quadra inteira, meu pátio. Entre a borges e a Praça da Matriz. O percurso até a praça da Matriz, por onde passava. Idas e vindas. Pensava. Já pensava. Um passo e outro. Pensando. E quantas vezes trilhei a calçada. Pra lá e pra cá. Hoje, lajes mais novas do que meus passos por aquela rua. Mais do que a rua. O trecho. Onde tudo vivia. O Edifício Monroe, ali, ainda. Soberbo, agora com vasos de flores na entrada. Mas nada engana. As escadinhas discretas até o elevador, que tanto me transportaram pelas histórias. Idas e vindas, ali também. Todos os dias, do elevador à rua, um momento crucial: "Bom Dia, seu Dino", descendo as escadinhas. Todas as idades. É personagem destes degraus, seu Dino. De cada degrau do tempo em que o Bom Dia do seu Dino me via crescer. E me via a cada dia. A cada manhã. A imponência da entrada. Algo mudada, mas a mesma. Posso resgatar imagens da minha mirada por aquele túnel de degraus, a pouca luz. Num vai-vêm de memórias, fotografias de tantos tempos. E minhas, subindo e descendo. Subindo e descendo no tempo. E o seu Dino, repórter dos meus gerúndios. Com alguma confusão, me fixo no túnel que leva ao elevador. Muita vontade de subir no elevador, até o décimo terceiro andar, e bater a campainha. E atender a porta, como se os tempos se cruzassem, em paralelo. E entrar naquele labirinto. Terraço, meu navio de mundos distantes. Minto. Não é bem vontade. Como uma curiosidade voyeur, de reenxergar janelas inexplicadas. Percorrer a casa. Descer até o primeiro andar, e visitar meus avós. Comer bombons Garoto com Coca-cola, que a Vó Léia sempre mantinha em seu mundo de avó. Por vezes, a vó era um pouco poltrona, também. Ali, ouvindo o tempo passar, as histórias escorridas. Ela, balançando na cadeira de rodas, contando feitos. Vez que outra. Ouvindo, em um silêncio bom. O escritório do vô, com as estantes altas, cheias de livros, a máquina de escrever, verde, sobre a escrivaninha. Sempre com alguma folha esperando acontecer. Personagens. Ainda sinto aquele cheiro do escritório, posso percorrer toda a casa e me lembrar da vó me ensinando o "noves fora" no sofá da sala. Ou o vô, casmurro, digitando seus anseios. Na mesa da cozinha, comendo salaminho com parmesão, pão de meio quilo e manteiga Aviação. E café, forte, quente e doce. Havia um silêncio confortável, casa de avós. E rumores. Entonações muitas. O corredor. O elevador da garagem, de madeira, escuro, com duas portas, uma de cada lado. Assombroso.Outro personagem da história, o elevador. Tinha seu cheiro, também.Tinha muito de tudo. E percorria todos os andares. Todas as mudanças, histórias, maledicências. O elevador da garagem era jocoso, não soberbo como a entrada do Monroe. Sabia de tudo, escutava calado. Em suas paredes, ria. Com alguma complacência. Deixava os moradores em seus andares, guardando as palavras, ainda nem ditas. Pensadas. O Monroe teve contos, isso teve. E ainda nem mencionei vizinhos, o viaduto da Borges de Medeiros, cujas escadas tinham o tamanho da minha imaginação. Me viram crescer, como o seu Dino. Passei por baixo do viaduto, tantas vezes, e em tantos momentos. E pelas escadas, que com o tempo assumiram seu tamanho e importância adequados. A minha escadaria, aquela que imaginava, diminuía com os anos passando. Os vizinhos, as calçadas, a sensação do trecho da Jerônimo Coelho entre a Borges e a Praça da Matriz. E hoje isso se esvai, concretamente. Vejo um novo casal, que vai ocupar a casa dos meus avós. A dispensa, onde a vó guardava suas infindáveis latas de azeite de oliva. O escritório, onde os livros do vô me fascinavam, a máquina de escrever, a atmosfera de palavras possíveis. tudo se esvai. Numa mistura de vento e baú. Guardo em mim todas as lembranças, cada linha. E deixo ir. Pelos passos naquela calçada, me vejo a de agora, ora com passos da menina que recém dera bom dia ao seu Dino.
Esse marrom? A cor do elevador da garagem. Faltam as ranhuras do tempo.
Betina Mariante Cardoso

Thursday, June 29, 2006

00:00 - 30/06/06.
E já podemos dizer que o ano acabou. Agora, são planos de meio ano. Meios descontos. Meios anseios. Tantos pontos. E nenhum. Balanço do ano pra trás. Seis meses.Eu já dizia:feche os olhos e junho acabou. Aterrorizante?Espere chegar setembro. E já pode começar com os presentes de natal. Insanos dezembros. Me perco. Se é calendário, já olho a semana do ano. Sem planos. Aniversário, logo ali. Aqui. Terror do tempo passando. Páro um segundo, e já passou. Giro o mundo no giro da hora. Sou eu e muitas aqui, dividindo os turnos deste meio ano. Mas sou eu, enfim. E não queria tanto mais. Além da loucura. Queria um pouco de loucura, também. Além das tantas loucuras. Queria fúria. Sentir. Um relógio que contasse de mim pra trás. Só espiar. Amar.Contar o tempo. Sem ver passar. Ver passar o tempo. Sem contar.Uma janela que abrisse pra dentro. Vento. E meio ano rodopiou.Ciclone de tudo. Queria dizer queria, e poder lamentar.Que bom é lamentar. Se queixar. Mas não deu. Já se foi meio ano. E nem me queixei. Que pena. Nem sei mais o que é tempo de trás, tempo pra frente. Parada no tempo, sem saber. Esperando escurecer, pra chegar amanhã. Sem saber. O que é março, abril, maio. Junho. E junho acabou. Sem que eu visse. E nem sei se estou preparada pro resto do ano. MEIO ANO. Ninguém pergunta se o ano pode continuar. Vai continuando. Ninguém pergunta. Ninguém responde. Ninguém fala. Silêncio. Ficamos sem saber. Sina. Ninguém ensina. Julho chegou, como de surpresa. Fazemos de conta. Deixamos passar. Sem saber? Sabíamos que chegaria. Sabíamos que passaria. O ano passa, assim. Me aterrorizo, e me alivio. Tempo que passa. Tempo que leva. Tempo que traz. Tempo que faz. Sórdido percurso, o do calendário. Perco o tempo. Me perco do tempo. O tempo se perde. Esvai. E o que era anteontem já foi mês passado. O amanhã era em abril. Assaduras do tempo. Doídas. Caladril. Feridas. Ócio. Minutos. Horas. dias. Meses. Meio ano. Eu, nova de mim. Já me desconheço. Não pareço. Aconteço. Esqueço. Endereço? Junho. Já foi. Quando foi? Ano passado. Mês passado. Foi comigo? Ou escutei contar? Tanta coisa. Minutos de mim. Eu, assim. Nua no tempo. Nua na chuva. Nua. Chove na rua, e faz sol. Chove em mim. Amanhã, sexta-feira. E de novo. Me canso. Danço nesse balançar. Me entristeço. Pesar. E sorrio de novo. Férias de julho. Era antigamente. Acabou um mês. Um a mais. Segundo semestre. Sem mestres. Sem sono. Amanhã é um dia comum. De acordar cedo. Nenhuma novidade. Cotidiano. Meio ano.
Betina Mariante Cardoso

Wednesday, June 21, 2006

Devaneio.
Meus olhos navegam
em transbordante lucidez.
Respingos e ventos
turvando o balanço
manso
do meu navegar.
Movimentos
ondulares
pendulares
do meu devaneio.
O barco no meio.
Riscando as águas.
Já não enxergo
nuances no horizonte:
Risco definitivo.
Reto.
Atravesso o risco
Passando pra lá de mim.
Devaneio.
Lucidez,
enfim.


Betina Mariante Cardoso
Uma luz inquieta me acorda do sonhar, e fico num lusco-fusco entre sono e vigília. Atravesso os porões, subo escadas, abro portas que chegam a corredores longínquos, escuros, atordoados. E novas portas. Silêncio, e tantos rumores. Acordo, em susto. E já não sei mais se é desperta ou em sonho que lembrei de algo.Esqueço depois. Novamente os corredores, as portas, porões. Gentes que nunca vi, nem sei onde estão. Máscaras de conhecidos, em frases sem nexo. Me remexo neste labirinto, ajeitando o travesseiro. E aquela luz? Acho que vem de um dos cômodos do cenário tortuoso, feito de fumaça... Luzinha trêmula, veste de antigo o meu sonho, reflete-se na cristaleira, pinga cores na sala vazia. Na inquietude da luz.
Permaneço entre a loucura e a sanidade, desperta e sonhando, entre o ruidoso silêncio e a quietude dos rumores, a escuridão do sono e a iluminação indireta da vigília.
Naquela luz inquieta que me acorda do sonhar.
Betina Mariante Cardoso

Sunday, June 18, 2006

Fui ao Secos e Molhados esta manhã, comprar 100g de reticências, que já tinha terminado o pacote. "Reticências só na semana que vem. Encomendei, mas tem muitos pedidos na frente. Pontos de interrogação, então, só mês que vem. Todo mundo pedindo. Tem saído muito. Tem 'dois pontos', quer?" , disse um senhor gentil atrás do balcão. Pensei. Não sabia bem onde usaria, e pra levar uma caixa de 'dois pontos' tem que ser de meio quilo. Resolvi perguntar por ponto-final, ele disse que ficava na estante do fundo, mas que achava que tinha passado da validade. "Faz tempo que o pessoal não compra, ficou lá. Exclamação tinha no estoque, mas esses dias veio uma dona bem braba aí, e levou tudo", disse o dono do estabelecimento. Indecisa, parei frente a estante dos pacotinhos de ponto-final, mas de fato, venceram no último verão. Ninguém leva. Virgulas? "Não tem. Todo mundo leva pra ter em casa, mesmo que não use muito.Vai que precise."
Eu Não estava ali por qualquer pontuação, tinha ido buscar reticências. Agora, pra levar outra coisa, só com uma boa receita. Ponto-e-vírgula ele me disse que tinha que importar, não tinha aqui. "Ninguém usa muito, sabe como é...Acabo investindo naqueles mais procurados, como as reticências." Curiosa, olhei para os potes de vidro, em cima do balcão: vários travessões. "Ninguém mais leva travessão, ultimamente, senhora. Pra levar travessão tem que saber usar, só vendo no mínimo dois travessões, e aí o pessoal deixa ali. Está naquele pote há horas. Tem mais uma coisa, ficaram os dois pontos também, que vendo jundo, mas sobraram do ano passado. Dois pontos e travessão só pra quem pode, é caro e a medida nem sempre é exata." Pensei em parênteses, mas também precisa levar dois, e ficaria no estoque. Parênteses precisa de um certo tom de gravidade, um tom de confissão. Complicado. Aspas, quem sabe. "Difícil sobrar. É muito procurado pra citar alguém, usar palavras dos outros, chega todos os dias no carregamento, mas sempre tem gente que vem e leva tudo de uma vez. Estou sempre pedindo. Amanhã já chega, de novo, pro estoque da semana. Mas pra levar tem que vir cedo." Sem saber o que fazer, encomendei 500g de pontos de interrogação, do que chega no próximo mês. Uso um pouco e deixo o resto no armário, que afinal de contas sempre tem serventia. Adverti o dono do Secos e Molhados que renove melhor seus estoques, e fui andando, sem meu pacotinho de reticências pro almoço. Levei uma quantidade razoável de dois pontos-travessão, dos que estavam ali no pote e ainda na validade. Sempre é bom ter em casa.
Betina Mariante Cardoso

Saturday, June 17, 2006



Rete Civica Pisana

Manifestazioni > palio san ranieri
Palio San Ranieri
Palio Remiero di San Ranieri
17 Giugno di tutti gli anni
Nel pomeriggio del 17 giugno, per dar lustro alla ricorrenza patronale di San Ranieri, quattro imbarcazioni che rappresentano i colori dei più antichi quartieri cittadini - Santa Maria, San Francesco, San Martino e Sant’Antonio - disputano sulle acque dell’Arno una regata, retaggio della prestigiosa tradizione di Pisa repubblica marinara. Questo evento riesce a coniugare la genuina passione sportiva, propria della competizione agonistica, con l’antico e diffuso costume di disputare palî remieri. Le imbarcazioni, a sedile fisso, con otto vogatori ed un timoniere, si ispirano alle tipiche fregate del mediceo Ordine dei Cavalieri di Santo Stefano. Dopo millecinquecento metri di voga controcorrente avviene l’abbordaggio d’un barcone ancorato sulla linea del traguardo, ed il montatore che affianca l’equipaggio deve arrampicarsi su di un pennone alto dieci metri, per afferrare il palio simbolo della vittoria. Una coppia di paperi è il poco ambito riconoscimento riservato all’equipaggio classificatosi ultimo. Il Palio di San Ranieri discende dalla tradizione degli antichi Palii che venivano corsi in Pisa, fin dal Medioevo, per celebrare l’Assunta. La parola palio deriva dal latino pallium, antico indumento romano costituito da un pezzo di stoffa rettangolare che veniva indossato così come usciva dal telaio, senza nessun intervento di taglio o cucitura. Nel medioevo il palio, rappresentato da una ricca stoffa lunga alcune braccia, veniva usato per accogliere re ed imperatori, ponendolo sopra le loro teste come un baldacchino, o offerto su aste o lance come un vessillo, tanto da far assumere alla parola palio anche il significato di bandiera o stendardo.
Immagini della
Regata edizione 2005
Albo d'oro


Notizie di queste accoglienze possiamo trovarne nella “Cronaca di Pisa” di Ranieri Sardo.I premi che venivano offerti in dono ai vincitori nelle corse medievali, solitamente di cavalli, consistevano in alcune braccia di seta, lana o velluto, e venivano indicati come palii. Si trattava perciò di “correre per vincere il palio” dizione che più tardi si abbreviò in “correre per il palio” o “correre il palio”, tanto che questa parola in seguito non indicò più il premio ma la gara disputata per vincere il premio stesso. Sappiamo che in Pisa la festa dell’Assunta veniva resa pubblica il primo di agosto con un particolare cerimoniale. Uscivano dalla città venti cavalli coperti da gualdrappe scarlatte, con le “armi” della Comunità, cavalcati da giovani vestiti di abiti ricchissimi, per proclamare i palii che dovevano vincersi in terra ed in Arno. Tra i documenti degli Anziani di Pisa troviamo che il premio per il vincitore, sia per competizioni in terra che in acqua, non era costituito solo dal drappo o palio propriamente detto, ma anche da animali, come un bue, un montone, un porco, un gallo ed un papero per l’ultimo arrivato. È interessante notare come fosse molto più alto il valore dei palii rispetto agli animali posti in premio, e che questi beni, essendo destinati a festeggiare l’Assunta fossero esenti da gabella. Dopo la caduta della città sotto il dominio fiorentino (1406) la regata conobbe alterne vicende; notevole quella fatta disputare dai fiorentini nel 1440 per festeggiare la loro vittoria sui milanesi, avvenuta ad Anghiari il 29 giugno di quell’anno.
Così la ricorda l’annalista pisano Tronci: “in Pisa fu corso un palio per Arno con fregate a dodici remi. La mossa fu dal monastero d’Ognissanti fuori dalla città, fino al ponte della Spina, per il quale oggi (scriveva nel 1682) si va in fortezza; e a chi primo toccò la meta fu dato in premio un vitello coperto di scarlatto con l’arme della Repubblica fiorentina da un lato e quella del Comune di Pisa dall’altro”. Nel 1494 furono i pisani che in segno di giubilo per la promessa di libertà dai fiorentini fatta loro da Carlo VIII vollero correre in Arno un Palio. Riferisce lo storico Portoveneri nel suo “Memoriale” che il 22 giugno 1495 si corse in Arno un palio di raso in seta al primo brigantino, al secondo un palio di panno, al terzo un paio di calze. Dopo la definitiva conquista di Pisa da parte di Firenze nel 1509, la regata cadde in disuso e solo nel 1635 il Consiglio dei Priori, per volontà del cittadino pisano Antonio Bartaloni Seppia - il quale aveva disposto, nel 1631, che dopo la sua morte dovesse essere corso annualmente un Palio del valore di 50 scudi, per la Festa dell’Assunta - fece riprendere l’usanza, decidendo di correre il Palio in Arno. La corsa doveva essere effettuata alle quattro del pomeriggio, seguendo un preciso cerimoniale: il Palio veniva esposto sopra l’antenna del Ponte di Mezzo ed in Arno in prossimità del ponte stesso veniva collocata una chiatta con un’altra antenna, sulla cui sommità era posta una banderuola o fiamma. Le imbarcazioni ammesse al Palio, radunate intorno all’antenna, dovevano andare alla volta del Ponte a Mare “e questo non per vincersi o perdersi il Palio da esse, ma per bel vedere e gusto della città”. Ogni imbarcazione, giunta al ponte a Mare, doveva prendere l’estratta posizione ed attendere il segnale di partenza.


Quella che, giunta all’arrivo, riusciva con un suo componente dell’equipaggio a salire sull’antenna e prendere la banderuola aveva vinto il Palio. Fu definitivamente stabilito anche il tipo di imbarcazione da usare, la fregata, la cui etimologia deriva forse dal greco “aphracta”, nave senza ponte. Antonio Cosi, nella sua relazione al Consiglio dei Priori afferma che la fregata non differiva dalla lancia se non di nome e che quest’ultima aveva meno velocità per la mancanza di “apposticci”. Gli apposticci sono i supporti laterali sporgenti dal bordo delle imbarcazioni destinate a questa regata, a mo’ di corridoio, su cui sono collocati gli scalmi. La corse doveva dunque essere di “fregate” e non erano ammesse altre imbarcazioni quali lance, gondole o simili. Nel 1718 alcune delle fregate che corsero il Palio, per la prima volta dedicato a San Ranieri e non all’Assunta, portavano i nomi gloriosi delle galere Stefaniane che avevano partecipato alla Battaglia di Lepanto combattuta contro i Turchi per il predominio della Cristianità. La vittoria nella Battaglia di Lepanto fu un episodio quanto mai significativo per il pisano Ordine dei Cavalieri di Santo Stefano. È logico comprendere come queste gesta avessero suscitato un grande entusiasmo per i Cavalieri di Santo Stefano, specialmente a Pisa sede dell’arsenale ove le galere venivano costruite, e che nel riproporre il Palio in Arno fosse logico fare riferimento a questa battaglia, anche se l’ultimo scontro navale al quale presero parte le navi dell’Ordine ebbe luogo non moltissimi anni dopo, nel 1719 quando due galere Stefaniane catturarono tre legni corsari lungo le coste della Sardegna. Nel 1737 l’arrivo del Palio, ormai consolidato come regata di San Ranieri, fu effettuato sul tratto di fiume prospiciente l’attuale Lungarno Mediceo, su richiesta del Duca di Montelimar, ospitato in uno dei palazzi lì situati, e da quel giorno l’arrivo fu mantenuto sempre in prossimità del Palazzo Medici (oggi sede della Prefettura).
Oltre ai Palii per San Ranieri si ebbero altre edizioni famose, corse in occasione di particolari avvenimenti: nel 1763, per la nomina a Granduca di Pietro Leopoldo, nel 1801 in omaggio al re Ludovico d’Etruria, nel 1839 per il famoso Congresso degli Scienziati, nel 1860 quando i barcaioli di Pisa corsero spontaneamente una regata in onore dei genovesi che avevano restituito il 22 aprile le catene del Porto Pisano, e nel 1864 per il Centenario Galileiano.Le imbarcazioni usate per il Palio di San Ranieri sono di tipo ad otto vogatori più timoniere ed il “montatore“. Le imbarcazioni furono realizzate, in occasione del ripristino della manifestazione nel 1935, dal Cantiere Fontani di San Piero a Grado (Pisa). Erano costruite in legno, lunghe 11 metri, larghe 2,20 metri e del peso di circa 700 chilogrammi l’una. I remi erano lunghi 4,60 metri e pesanti oltre 18 kg. Gli scafi ricalcavano fedelmente se pure in scala ridotta la linea delle “galere sottili” dell’ordine Stefaniano a forma di fregata, con gli scalmi sugli “apposticci“ (bordi) come la tradizione richiedeva. Queste imbarcazioni sono state utilizzate fino all’edizione del 1984. Successivamente sono state sostituite da esemplari in vetroresina molto più veloci e leggeri. Ogni imbarcazione rappresenta uno dei quattro quartieri cittadini, individuati idealmente per la suddivisione della città in quattro settori dall’intersezione delle due principali vie cittadine, aventi direzione nord - sud, e l’Arno, direzione ovest - est.


Ogni quartiere è contraddistinto da propri colori. In senso orario troviamo nella parte sud della città: San Martino (dai colori bianco e rosso) e Sant’Antonio (bianco e verde), mentre nella parte nord: Santa Maria (bianco e celeste) e San Francesco (bianco e giallo). Il percorso tradizionale in Arno è quello controcorrente, con partenza a monte del ponte della Ferrovia e con l’arrivo davanti al Palazzo Medici (sede della Prefettura), per un totale di 1500 metri. La caratteristica di questa regata, oltre alla presenza del “montatore”, è quella di mantenere inalterate le caratteristiche degli antichi palii, in quanto ogni timoniere subito dopo la partenza, compatibilmente con la possibilità di sopravanzare le altre imbarcazioni, ha la possibilità di sceglie la traiettoria reputata più favorevole. Questo comporta una lotta accanita fin dalle prime remate, perché i timonieri cercano subito di sopravanzare le barche concorrenti per portarsi dalla parte sinistra del fiume per subire meno l’influenza della corrente, contraria al senso di marcia, e per percorrere il lato interno, più breve, dell‘ampia curva del tratto cittadino dell’Arno. La vittoria finale non è assegnata in base all’ordine di arrivo delle imbarcazioni ma è affidata, dopo l’abbordaggio d’un barcone ancorato sulla linea di traguardo, all’abilità del montatore che affianca l’equipaggio. Infatti qui il montatore deve arrampicarsi su di un uno dei quattro canapi che raggiungono la sommità di un pennone alto dieci metri, per afferrare il “paliotto” simbolo della vittoria. Il paliotto di colore azzurro assegna la vittoria, quello di colore bianco il secondo posto, quello di colore rosso il terzo. Una coppia di paperi, come preannunciato, è il riconoscimento riservato all’equipaggio classificatosi ultimo. Questo oltre a significare la conquista dell’antico palio, ricorda l’impresa di Lepanto quando la flotta dei Cavalieri di Santo Stefano andò all’abbordaggio dell’ammiraglia turca, ad impadronirsi della “fiamma” da combattimento posta sul pennone dell’imbarcazione degli “infedeli”. Detto stendardo attualmente è conservato nella Chiesa dei Cavalieri a Pisa.

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Luminara di San Ranieri
Luminara di San Ranieri
16 giugno 2006

Sui Lungarni di Pisa si rinnova ogni anno, all’imbrunire del 16 giugno,l’incantesimo della Luminara di San Ranieri. Infatti, per antica tradizione, i pisani sono soliti celebrare con questa singolare illuminazione a cera la festività patronale del 17 giugno. Sono circa settantamila i lumini che per ogni edizione vengono meticolosamente deposti in bicchieri di vetro liscio diafano, ed appesi in telai di legno, dipinti di bianco (in gergo: "biancheria"), modellati in modo da esaltare le sagome dei palazzi, dei ponti, delle chiese e delle torri che si affacciano sui lungarni pisani. Unica eccezionale appendice rispetto a questo scenario è la Torre Pendente, illuminata altrettanto arcaicamente con padelle ad olio, collocate anche sulle merlature delle mura urbane, nel tratto che racchiude la Piazza dei Miracoli. Dopo l’accensione, per effetto del riverberarsi della miriade di luci tremule nelle acque dell’Arno, dove vengono deposti ed affidati alla corrente anche lumi galleggianti, l’evento offre al visitatore una suggestione unica, indescrivibile, proprio per l’estatico incanto che sin dall’antichità rende magiche le notti pisane del 16 giugno.
Luminara dei S. Ranieri 16 giugno 2005. Videosintesi dei fuochi visti dal
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Il 25 marzo 1688, nella cappella del Duomo di Pisa, intitolata all’Incoronata, venne solennemente collocata l’urna che contiene il corpo di Ranieri degli Scaccieri, Patrono della città, morto in santità nel 1161. Cosimo III dei Medici aveva voluto che l’antica urna contenente la reliquia fosse sostituita con una più moderna e fastosa. La traslazione dell’urna fu l’occasione per una memorabile festa cittadina, dalla quale, secondo la tradizione, ebbe inizio la triennale illuminazione di Pisa che dapprima si chiamò illuminazione e poi, nell’Ottocento Luminara. Tuttavia l’idea di celebrare una festa illuminando la città con lampade ad olio non fu un’invenzione del momento, ma una consuetudine nata da tempo ed affermata gradualmente in occasione di avvenimenti particolarmente solenni o festosi e non necessariamente legati al culto del Santo Patrono. Si possono infatti trovare precise testimonianze di questa tradizione: il 14 giugno del 1662 (prima cioè che si provvedesse alla traslazione del corpo di San Ranieri) l’illuminazione fu allestita in onore di Margherita Luisa principessa d’Orleans e sposa di Cosimo II che transitava da Pisa per recarsi a Firenze.

Vi è traccia anche di precedenti edizioni come quella organizzata in onore di Vittoria della Rovere in occasione della festa notturna per il carnevale del 1539. Nata come illuminazione delle finestre di case, per il passaggio dei cortei o processioni, la Luminara, seguendo le nuove fantasie scenografiche del tempo, andò configurandosi, nel Settecento, come libera architettura luminosa applicata agli edifici, dei quali sempre meno rispettava le reali strutture, inventando forme bizzarre che trasformavano la città, e specialmente il Lungarno, in uno scenario teatrale di effetto fantasmagorico. In alcuni edifici l’illuminazione continuava comunque ad avere la funzione di sottolineare le strutture esistenti. Le vicende della Luminara hanno seguito costantemente quelle della città. Abolita nel 1867, venne ripristinata nel 1937 in occasione della ripresa del Gioco del Ponte e sospesa durante la seconda guerra mondiale.
Si tornò ad allestire la Luminara per la festa di San Ranieri del 1952 e la tradizione durò fino al 1966. Nel novembre di quell’anno la violenza dell’alluvione provocò il crollo del Ponte Solferino e di lunghi tratti del Lungarno. Si ebbe quindi una nuova interruzione della Luminara, che venne ripresa nel giugno 1969.


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Thursday, June 15, 2006

Um show para lembrar. Miúcha entremeia as músicas do Vinicius, Tom e Chico com toques sobre a convivência com os três, numa atmosfera envolvente, que absorve o ânimo, entre risadas (as bebedeiras em Ipanema e histórias mirabolantes da turma- como o Tom Jobim tentando, sem sucesso, falar francês, e o Vinícius olhando pra ele com olhar complacente, sem dar muita bola) e um tom melancólico de nostalgia e romantismo. Começa com Samba do Avião, percorre trechos de João e Maria,cumpre o programa do show, mas surpreende. Pede coro com Eu Sei que Vou te Amar, no finalzinho, faz que vai embora, mas volta pra cantar um pouquinho mais.Faz gracinhas cantando com o pianista Quando a Luz dos Olhos Meus e a Luz dos Olhos Teus...Interrompe para bater papo, e continua cantando. Fala da sua recente proposta de Canonização do "Santo Vinícius de Moraes", que iniciou no Chile, com ofício pra mandar ao Vaticano, entre risadas com a platéia. A gente fica pairando num instante longo, entre a voz e as memórias.As dela e as nossas.E mais: se sente tudo o que se possa imaginar, quando contado por quem viveu as cenas,as figuras, os tons. Num vai-e-vem crescente, entre cantoria e conversa, se escuta as preciosidades de quem teve Vinícius,Tom e Chico em mesa de bar. Conta da viagem da turma pela turnê na Europa, nos anos 70,e as peripécias (bem ridas) daqueles tempos. Faz arrepiar a riqueza de histórias e sensações que ela tem pra contar, e pra cantar. Com o cenário pequeno, e um pianista que alinhava a atmosfera, a voz da Miúcha captura a atenção, fazendo com que se fique ali de todo, entrando em cenários contados por ela, entre uma música e outra. Um tom de melancolia, isso sim, mas uma melancolia boa. Fala do Chico, seu irmão, e de histórias entre ele e o Tom, ele e o Vinícius, ele e ela, a própria Miúcha, e diz que o Vinícius reclamou da letra de Maninha, dizendo que a casa descrita na música "nem jaqueira não tinha", que era tudo mentira...Com a intimidade de quem pode falar essas coisas. As preciosidades contadas dão mesmo o tom das mesas de bar daquele Rio, dos bate-papos, dos pileques bem tomados... Histórias de vidas bem vividas, de que chegamos a sentir o gostinho pela voz risonha desta noite.

Betina

15/06/06.

Wednesday, June 14, 2006

PROGRAMAÇÃO CULTURAL!!!
...Vale um post!
CONCERTO

Miúcha canta no StudioClio
Uma cantora e três cariocas- O StudioClio recebe a cantora Miúcha e o pianista Leandro Braga para uma única apresentação em Porto Alegre no dia 15 de junho. O clima de botequim e reuniões em casas de amigos são resgatados pela cantora. O show Uma cantora e três cariocas revisita importantes momentos da música popular brasileira e traz ao palco o universo de Tom Jobim, Vinícius de Moraes e Chico Buarque.Neste show, Miúcha revisita os anos dourados do Rio de Janeiro, construindo um repertório de amores e boemias traduzidas em versos íntimos e arranjos sofisticados. As melodias transportam o público para a cidade maravilhosa dos anos 50 e 60. Até quem não viveu essa época de ouro sente saudades do grupo que inseriu bossas e delicadezas na música brasileira.Cada canção entoada por Miúcha revela a cumplicidade e intimidade com os compositores.De Vinícius, ela resgata os versos de Carta ao Tom, que foram endereçados ao maestro soberano Antonio Brasileiro. A inédita Georgiana, escrita em homenagem a filha do poeta, Pela Luz dos Olhos Teus e Eu Sei que Vou Te Amar, também compõem o repertório.Com Tom Jobim, Miúcha dividiu vozes e boemia, acordes e trocadilhos, afeto e admiração. Para celebrar esse encontro, ela entoa Samba do Avião, Fotografia, Vai Levando e Anos Dourados. As letras são costuradas por revelações e lembranças vividas com o músico. Intimista em versos e melodias, Miúcha aproxima o público desses poetas que cantam a alma do país.Os sambas e canções de amor do irmão Chico Buarque completam o cenário afetuoso do show. As composições João e Maria, O que será? e Maninha, esta dedicada a Miúcha, poetizam o repertório e selam um pacto pela música e pelo companheirismo. Este trabalho, sofisticado e despretensioso, retrata uma das épocas mais brilhantes da música popular brasileira através de uma de suas mais importantes intérpretes.Pianista, arranjador e compositor, Leandro Braga iniciou seus estudos de piano clássico com apenas 4 anos de idade. Formou-se em medicina, mais jamais exerceu a profissão, uma vez que desde cedo sabia que se entregaria à música. No final dos anos 70 começou sua carreira tocando em bailes e casas noturnas de São Paulo. Foi para o Rio, em seguida, onde teve aulas com Luiz Eça, seu grande mestre. Nos anos 80, atuou ao lado de nomes como Fafá de Belém, Beth Carvalho, Chico Buarque, Tim Maia e Zeca Pagodinho, tornando-se um dos músicos mais requisitados em seu gênero. Seguiu, durante os anos subseqüentes, gravando discos e assinando a direção musical de longas-metragens e espetáculos teatrais.Valores:R$ 50,00 ( público em geral )R$ 35,00 ( professores, estudantes, idosos, sócios AMARGS e filiados ADUFRGS )
Docente(s):
Miúcha
Data:
15 de junho de 2006
Até:
15 de junho de 2006
Horário:
21h
Mais informações:
Clique aqui

Wednesday, June 07, 2006

Às vezes me vejo rodando por dentro do vidro, segurando com toda força o ponteiro dos minutos, pra não cair. Seguro com as mãos, os braços, sacudo as pernas, sendo levada ao próximo minuto, quase sem própósito. Me rebato no vidro, percebendo não poder sair dali.E sigo, minuto a minuto, minha vertigem. Giros e giros.Vezes, escapa uma mão ou a outra, quase caio. Escorrego, chego a me apoiar com uma das pernas no ponteiro dos segundos, até encontrar novamente o equilíbrio. E lá vou passeando nos minutos do dia, volta a volta. O ponteiro das horas, curioso. Fico nos minutos, pouco a pouco encontro uma posição confortável, ajeito as pernas, me movimento.Danço. Acrobacias. Rodopios. Vertigem. Me arrisco, soltando uma das mãos, e sinto algo como o vento passando por mim, o vento por dentro do vidro. Quem passasse por ali, perceberia detalhe estranho no desenho do relógio. Vou passando. Minutando.Escorregão aqui, outro ali, tropeços, tropicos. Seguro o ponteiro, a mão escorrega, solto e tento cair. Malabarismos no ponteiro. Vezes, um tango. Acabo caindo. De propósito. Sento numa das horas, fico ali por um pouquinho, observando o movimento.Torno ao ponteiro dos minutos, quando passa por mim na volta seguinte. Me espicho e lá estou, em novo passeio.
Betina Mariante Cardoso

Sunday, June 04, 2006

Fico assustada com o céu, quando se põe assim. Escuro. Cinzento. Me acinzo um pouco, pra combinar com o tom das nuvens. Não que goste. Mas acaba acontecendo de ficar ventando pelo dia, esse ventinho frio que corta. Tem sua graça, dia assim. De assustador, tem um pouco, parece que esconde segredos. Tem, isso sim, silêncio no tom do céu. Um silêncio casmurro, que insiste em não falar. Nem chover. Fica uma quietude misteriosa, não se sabe se chove no final, se fica mormaço, se enfim chega um solzinho. Fica essa coisa rançosa no céu, no dia, no ânimo. Uma dúvida, um céu fechado, uma soberba. Tem um tom de sol, no fundo do céu, numa das gavetas. Tudo escondido. Ficamos nós com tons de céu cinzento. Um tom de realismo fantástico na astmosfera. Um céu que não conta o final. Um capítulo à parte na semana, que não anuncia as próximas páginas. Imaginemos nós. Um sol que não surge, chuva guardada, nuvens deitadas, espichadas. E essa dúvida, que o mormaço deixa. Mormaço escuro, mormaço claro. Mormaço. Fica no ar a indefinição do ânimo, esse mormaço de domingo.
Betina Mariante Cardoso
04/06/06

Saturday, June 03, 2006



Bile Negra- melanos cholein- Melancolia
“ Porque a potência da Bile Negra é inconstante, inconstantes são os melancólicos.” Aristóteles- Problemata XXX,I

“ Mas muitos, porque o calor se encontra próximo ao lugar do pensamento, são tomados pelas doenças da loucura ou do entusiasmo. O que explica as Síbilas, os Bakis e todos que são inspirados, quando eles assim se tornam não por doença, mas pela mistura de sua natureza.” Aristóteles- Problemata XXX,I
“(...) E, nesse espelho, começo a ver imagens loucas, monstros, cadáveres horrendos, todas as espécies de animais horripilantes, de seres atrozes, todas as visões inverossímeis que devem habitar o espírito dos loucos.
Eis a minha confissão, meu caro doutor. Diga-me, o que devo fazer?” Carta de um Louco- Guy de Maupassant
17 de fevereiro de 1885
Eis que resolvi trazer a loucura. A imaginação, a bile negra, as idéias loucas, páginas em branco de nós mesmos. Emil Kraepelin descreveu pela primeira vez a insanidade maníaco depressiva, em suas mais surpreendentes nuances. Dos melancólicos, descreveu com primor quadros pouco imagináveis por nós, atualistas.Pacientes crônicos, os quais acompanhou por anos em suas observações, até que pudesse construir suas idéias. Há alguns anos, estudando este psicopatologista, fui imaginando seus personagens, a partir de descrições quase literárias das figuras que ele construía. Fazia imaginar os mais variados tipos, fazia construirmos estórias, dava luz a seres horrendos, existentes em seus pátios. Nos pátios da minha escrita construí, na leitura de suas preciosidades, a personagem Martha. Kraepelin entrevista Martha, que se esconde, nos campos de Heideberg. A apresentação da melancolia paranóide de Kraepelin reveste-se das emoções de Martha, construindo-se assim parte de um roteiro. "Revisitando Kraepelin" apresentou personagens deste autor, contracenando aspectos das patologias que descreveu sob a forma encenada. Importante experiência, essa de criar personagens sob uma base descritiva da doença mental. Aspectos da loucura, aspectos da realidade, aspectos da literatura. E os aspectos da descrição de sintomas de um outro jeito. Um observar das descrições de Kraepelin, respeitando sua visão, e a construção, em corpo, daquelas palavras.
“Dialogada” Kraepelin X Martha

K.- E então, Martha, como se sente...?
(Silêncio)
M.- De onde vêm tantas vozes...? Vozes que me atormentam, me assombram...acusações por toda parte...Mesmo com meus passos lentos e surdos, sei que a cidade se movimenta...(silêncio). Amantes escondidos, esposas traídas, fetos abortados...E pareço ter construído minha vida sobre hábitos tranqüilos e regulares, saio sempre às mesmas horas de casa para a biblioteca e dali para casa. No caminho, vou ao secos e molhados da esquina...como ontem, quando fui comprar pão, leite, couve e ovos...Um pão de dois dias, os ovos rachados, o leite guardado no porão, há meses já. E a couve...a couve murcha...Sempre passo na mercearia à tardinha, quando os melhores produtos do estabelecimento já foram comprados pela manhã. Minha rotina escurece cedo, durmo nos mesmos horários, talvez porque não tenha por que permanecer desperta. Todos sabem quando dormi: apaga-se a única luz de vela que ainda mantenho acesa até ás 20hs, há tantos anos...Até ali, leio algum livro empoeirado trazido da biblioteca para me acompanhar enquanto tenho a luz da vela; nem sei o que leio, mas percebo o roçar da páginas na imensa inquietude do silêncio...Me inquieto por saber que, quando apagar-se a vela, a cidade falará de quem escondo em minha casa, e da devassidão que trouxe à minha vida, das noites calorosas que imaginam que atravesso após o fim daquela luz solitária. Não me acreditam solitária, não acreditam na imagem de donzela recatada, a que sai e volta para o trabalho todos os dias, com a discreta pausa na mercearia. Esperam de mim uma rotina leviana, me creditam o insucesso, a ruína, a imoralidade...Minhas noites são tomadas de mim mesma, sei que no outro dia acordarei, tomarei meu chá de maçã e prenderei meus cabelos nesse coque mal-penteado...Sairei e, como sempre quando saio de casa para a biblioteca, e de lá para casa, os sinos da igreja tocarão, anunciando que estou na rua, e que mais uma noite devassa chegou ao fim. É quando todos se olham, incriminando-me de meu passado, presente e futuro.

K.- Acredita então que a cidade controle seus afazeres, seus horários...?
M.- Sempre espero chover no dia seguinte, quando a cidade se esconde. Ainda assim, os sinos avisam a todos quando me desloco...Tanto que os olhares, quer da rua, quer das janelas, conhecem meu destino...Me ofusca a luminosidade do sol, nos dias de sol, como se minhas marcas ficassem mais nítidas com a luz. Todos vêem, todos falam.
K.- Marcas?
M.-( Silêncio) expressando pudor na região dos lábios e vergonha no olhar. (silêncio)
Falam de meu passado como amante de Ludwig, pelas ruas, me atormentam com olhares...Na biblioteca, uma vez, conseguia separar os livros por interesses, catalogá-los, reencapá-los...Pouco conseguia ler, que a biblioteca é bastante escura, mas levava livros para ler em casa...Hoje vou à biblioteca para me esconder, pois se ficar em casa dirão que escondo homens de família no sótão....Só os livros sabem que não consigo mais trabalhar, que não me interesso mais por reencapá-los ou catalogá-los, que apenas me escondo ali...Ninguém entra, ninguém sai...Pelas janelas, vejo a chuva, vejo o sol, vejo os transeuntes lá em baixo, olhando curiosos, escrutinando quem terei levado lá pra cima, pra devassar-me entre as estantes de livros. Ali dentro, só escuto os sons das páginas quando às vezes tiro o pó de um livro...E escuto as vozes, tantas vozes, que me assombram e vigiam...
K. E as vozes, de quem são...?
M. Escuto a cidade em seu burburinho, traçando os passos do meu dia e dos meus pensamentos, me incriminando. Têm volume alto, todos escutam meus segredos, as recriminações. Até os olhares têm vozes...
K.- (tom cordial)... Explique-se, por favor...
M.- De fato existe algo entre eu e o mundo...Ontem fui, como em todos os dias à tardinha, à mercearia...Já havia o sino tocado, todos sabiam que eu transitava pela cidade, e que àquela altura, pela hora, já estaria ali...Friederich me olhou ao alcançar o pão, e olhou para Anna com olhos inquisidores...Ele me olhou como se soubesse de minha ruína, meu estado atual, já nessa idade avançada, e ainda solteira, deixada...Olhou-me sabendo de um segredo que me incrimina, que poderia me arrasar. Posso imaginar que ele saiba, mas eu mesma não sei. As vozes dizem que destruo lares, uma leviana...Ele poderá ouvi-las...? se soubesse disso, me teria feito saber,é um homem do bem...parece...Poderá estar contando aos outros fregueses, por isso os olhares severos por toda parte. É o único estabelecimento de secos e molhados da cidade...Todos compram lá, de manhã cedinho, quando vem o melhor pão...E os melhores comentários das noites no sobrado onde moro...Desde o horário mais cedo da manhã, me olham como desvendando a minha inquietude, meus pecados.Ontem me apontou na rua uma senhora zelosa, mãe de família, que não hesitou em me acusar com sua moralidade...Fez isso com os olhos, mas fez de fato, balbuciando pregações. Não tenho pudor ou respeito, e os olhares me gritam. Não deixo calar meus pensamentos, não consigo silenciá-los quando me vejo no escuro do meu siilêncio, da minha rotina solitária. É quando me lembro que todos já sabem que fiz algo, que ainda nem sei o que será. Quando me lembro da minha ruína. Os pensamentos são rápidos, inquietos, mas minha velocidade arrastada me impede de alcançá-los...Até meus pensamentos conhecem mais de mim do que eu possa alcançar...
K.- Parece estar difícil viver assim...
M.- (Silêncio)
(Olha para o interlocutor, mostra-se hesitante)
Por vezes penso...(pausa), mas mal consigo erguer-me pela manhã... Seria melhor se não sobrevivesse...(pausa). Mataria a mim, apenas, para que ninguém guardasse na memória as idéias de minha ruína...(pausa)...

Sensações da loucura, em personagem. Sob texto de Emil Kraepelin, a montagem de um roteiro, em que Martha vestia-se de branco, desgrenhada,escondida sob os degraus da escada do hospital, em seu próprio mundo.Por sob o véu da melancolia,traduzia em emoções as perspicazes observações descritas pelo médico. O que tem-se hoje é apenas mera noção da intensidade de tal loucura. Felizmente, noção tão clara em detalhes que faz possível reconstruir imagens. Como Martha, diversos outros elementos foram imaginados. kraepelin registrou, com precisão de rico observador, textos literários, em que descreve, ele mesmo, personagens, histórias, cenas peculiares. Registrou a Ciência e a Literatura, figuras reais em máscaras poéticas, de plena loucura.

Betina mariante Cardoso


Por enquanto, cansei do Diário Pisano...Coisa de ficar passando a limpo depois de tanto tempo...A coisa de lembrar dos primeiros dias, isso sim. A história dos primeiros passos. Depois, a história que se conta é a lembrança, indiscritivel, intransferível. Perene. Não história pra contar em capítulos de diário. História. Está ali. História. Estórias, também. Imaginação, aulas de Horizontalogia. Possivelmente traga notícias da Luminara, festa da cidade em que iluminam todo o Lungarno com velas nas portas e janelas. Uma grande festa, a Luminara di San Ranieiri, o Patrono de Pisa.16 de junho. Se der vontade, eu conto. Ou crônica.
Agora, retorno a 2006.
Betina Mariante Cardoso
03/06/2006.

Friday, June 02, 2006

Do Portão de Madeira do Relais dell´Ussero

Esta é uma estória de engrenagens. Personagens. Letras escondidas.
Não escritas. A fechadura, fechada. Parece. Narrativas esquivas, do lado de lá. Em outra caneta. Uma engrenagem de ferro abre um velho portão pra fora. E pra dentro. E então tem-se um conto. Pronto.
Da fechadura, basta girar a chave.
Portão de madeira pesado, é a primeira impressão. Maciço. Silencioso, isto sim. Ilustre senhor da calçada.
Do tamanho do tempo. Pode-se não abri-lo, encerra-se o conto. Abrindo, faz-se trabalhar a engrenagem, enguiçada pelas estórias não contadas. Tantas.
Dia por dia, abre-se e fecha-se. Cenários de dentro e de fora. Enredos passantes, e ele ali. Fico certa de que me sabia, espiava meu olhar curioso. Em cada detalhe de seu abrir. Estórias. Como uma caneta, que tudo guarda. Silenciosa, ilustre, contendo suas letras. Ali a engrenagem.
Abre-se o portão na folha pautada.
Betina Mariante Cardoso

Thursday, June 01, 2006



De volta ao Diário Pisano...

Dia primeiro de junho foi o dia em que iniciei o estágio no Servizio di Psichiatria do Cassano. E um dia pra lembrar. Já tinha ensaiado a ida tantas vezes, conhecido o percurso, mas o dia é o dia. Café no Ussero, trajeto pelo Lungarno, Via Roma, Via Savi,Via Bonanno, em passos firmes. Ensaiar a chegada dias antes.Chegar. Chegar o dia.
Entrei no Serviço, fui perguntando. Esperei em uma sala, esperei, esperei, esperei. Olhei livros nas estantes.Esperei. Me impacientei, sem outra saída. Seguia esperando. Aquela senhora que me indicou onde esperar nem entendia o que eu fazia ali. E nem eu. Mas esperava. Fui à sala do Cassano, e fui de novo. Me apresentei à secretária, que não disse muito. me perguntei por que estava ali, afinal de contas. Por que tinha quebrado os dias normais da minha rotina pra atravessar um mundo até ali. Por que tinha ido até ali? Mas agora que estava ali, esperaria. Existem momentos estranhos, em que nem mesmo temos tempo de perguntar a nós mesmos se tal coisa é a decisão mais justa. Um desses foi ver o Cassano passando pela minha frente, numa das minhas tentativas de passar pela sala dele. Sem chances de refletir, parei na frente dele e me apresentei. Atencioso, me reconduziu à sala onde eu já permanecia, desde cedo. Eu ri, então. Sozinha, retornando à cadeira de esperar. Aquilo fez valer o meu dia. Não apenas ter conhecido pessoalmente aquela figura, mas o fato de, em não sabendo o que fazer, optar pela ousadia. E arriscar, num pequeno segundo em que me via em frente a ele. E este momento já tinha ocorrido no Aeroporto de Roma, no vôo para Pisa, quando vi que ele mesmo, Dottore Cassano, estaria no mesmo vôo que o meu. Mas naquele momento, assombrada pelo medo de tudo e pela falta de oportunidade, me escondi. Não sei do que, se a tal figura nem imaginava quem eu era. Pois bem. Repetida a cena, aquele era o momento. E realmente. Após esperar um pouco mais, depois de já ter esperado tanto, o próprio Cassano veio à sala e me perguntou se eu estava ali por atividade de Clínica ou de Pesquisa. Respondi que por ambos, mas que a Clínica me interessava mais. me acompanhou pelo Day Hospital, fazendo as devidas apresentações e recomendações de que eu fosse bem atendida ali, que tinha vindo de longe. Era estranho. Me via num turvamento, como sensação daqueles sonhos que temos logo ao acordar, sensação entre o sono e a vigília. Mas era fato. Estava ali. Fui ao setor de Internação, acompanhada por um dos "primarios", como um supervisor. acompanhei o Round, feito pelo Chefe. Ainda sem graça, meio estranha à situação. Mas estava ali, justamente encontrando o que tinha ido buscar. E aquele era apenas o início. Já era um bom início. À tarde, retornei ao Hospital, pra olhar prontuários. Queria ver como escreviam, os roteiros de anamnese, os termos técnicos. Me apoiar em arsenais seguros, como a técnica de entrevista, o "linguajar", a sensação conhecida da sintomatologia, dos tratamentos. Disfarçar o medo daquilo tudo, daquele novo tão novo. O medo e o encanto, no primeiro dia. Aqueles olhares de estranheza de todos: "por que ela atravessou tudo isso pra vir até aqui?". Eu sei, também me perguntava isto. Mas sim, hoje sei o valor daquele momento, que na ocasião tinha formato de ponto de interrogação pra mim. De tudo, o que fica deste dia foi a oportunidade de passar pelo Cassano, em frente à sua sala, e cumprimentá-lo. E o dia primeiro de junho tem esse tom de alegria pra mim. Da hora certa de ousar. Como atravessar a Ponte di Mezzo e dar um passo avante.
Betina Mariante Cardoso
01/06/06

Wednesday, May 31, 2006

(Um pouco de Literatura entre as páginas do Diário)
LOBO DO MAR

Bem longe dos lugares de areia que ficam perto do mar, e longe do horizonte mais próximo, parava o velho senhor. Não parecia estar em lugar algum, senão em sua própria fantasia, escondendo-se nas lembranças do velho navio. Ensimesmado, de casaco e chapéu pretos, botinas soturnas e barbas mais brancas do que o branco destas folhas, lá havia as sombras do louco mariante que fôra, um dia.
Com olheiras arroxeadas, rugas em todas as direções, bochechas caídas e lágrimas perenes, seu rosto poderia ser um daqueles velhos mapas que o leme consultara, outrora, buscando novos territórios. No “hoje”, o único espaço a sua disposição era a imaginação, recônditos onde encontrava o consigo mesmo que se perdera em águas distantes.
Dizem que o “Louco do Mar”, como era conhecido por aquelas bandas, ficou louco, mesmo. Seus olhos já nem olhavam mais, deleitando-se em paisagens que ningúem via; seus lábios não falavam, mas gritavam aos outros marujos; seu corpo flutuava por dentre as vestes, sentindo ainda respingos do mar...
Mas então, onde andaria o capitão de cores fortes e gênio arrojado, pronto a aventuras impensadas?
Tantas vezes esquecera-se de voltar ao mar, quando longos pileques e prostitutas no porto distraíam seus ponteiros do relógio. Amantes, as teve; era, contudo, homem de instantes, sem enlaces com recordações ou fisionomias, daí o gosto pela esbórnia. Contas penduradas, sons embriagados de insanidade e roupas de todas as cores: parecia mesmo carregar o sol dentro de si.
Longas eram as cantorias na madrugada, fazendo serenatas para a lua. Os sons das vozes roucas e do rolar das garrafas pelo chão de tabuões do navio, o gostoso barulhinho do mar e a melodia do vento faziam, daquelas horas sem rumo, tempos sem idade. Dos mapas- desenhados a lápis em sacos papel-pardo, de pão- tinha-se apenas idéia remota da próxima “terra-a-vista”. E lá, à deriva, naquele balanço constante por sobre as ondas, estavam os marujos, entre novos portos e novas ilhas.
Quantas tempestades, vendavais e alvoreceres atravessaram seus relógios; os homens, ainda assim, cantavam, dançavam e bebiam, mentindo tesouros e pescarias. Vozes embargadas em lembranças dos longos anos, fisionomias apagadas entre câmbios sucessivos de terras e mares e um navio, agora triste e cansado.
De tão cansado, vez, o leme enguiçou, trazendo o susto aos marujos. Tanto girou, por tanto tempo, em tantas as direções, que aposentou-se involuntariamente. Desrespeitaram seu sentido de orientação, ignoraram seu papel. Coitado do leme: sem saber para onde ir, estava sem bússola interna. E esse foi só o início.
Logo, o chão inaugurou sua derrocada. As tábuas passaram a ranger, pelo andar pesado dos homens, as danças e as bebedeiras, quando a agitação era ainda maior. Do ranger ao quebrar, foi um pulo, e aquele som de madeiras podres partindo-se ao meio, e o meio ao meio, tornou-se muuuuito maior do que as vozes dos marujos (que já eram bem altas). Então, por momento, eles calaram. E ouviram.
O mastro balançava-se, parecendo pedir ao céu que levasse embora a destruição; no entanto, cada vez mais, aquele balanço incomum ía prá lá e prá cá.
O vento cansara-se de fazer a côrte às velas desleixadas: a perda da vaidade trouxera rasgos e manchas àquelas que foram, por tempos, as damas do mar.
Tendo percebido tudo, os marujos desmancharam-se em um silêncio escuro, muito diferente do escuro daquelas madrugadas de danças, gritos e serenatas para a lua. A tristeza trouxe, aos seus rostos, aspecto de rochas onde as ondas estouram. As roupas coloridas acinzentaram-se, como anúncio de chuva que já chegou. A ousadia trouxe, em seu lugar, a perplexidade. O capitão, velho mariante de barbas brancas e sonhos de terras distantes, viu suas aventuras indo longe nas águas do mar.
Parou no próximo porto, para sua talvez última parada; deleitou-se na luxúria, escondendo-se em mulheres sem rostos e em uma embriaguez atônita. Viu, nas prostitutas, sereias dos mares de longe; nas garrafas de rum, a chegada de mensagens de novas terras. Embebido em memórias que o trago teima em borrar, pintou, em sua fantasia, histórias nunca acontecidas.
Em longos anos de parceria com os outros marujos, nunca se lembrou de estendê-la ao navio. Sem preocupação sobre seus sentimentos ou bem-estar; sem cuidados com aquele que era, em última instância, seu corpo. Para eles, só a boemia era a certeza: na inconseqüência do mar, não ouviam a sabedoria das madeiras. Queriam dele o sumo da boa-vida: de serenatas e noitadas às loucuras em novos caminhos, traçados no papel-pardo. Caminhos que eram seguidos ao sabor do vento ou da própria vontade.
Do navio, nunca lembravam; ele, por tempos, não reclamou. Os sinais da doença, no entanto, teimavam em aparecer, acenando notícias da morte vindoura. Enquanto isso, os lobos do mar imaginavam ir à eternidade, pensando-se imortais em suas aventuras. Não foram.
Assim do regresso ao mar, após a última visita ao porto, as próximas noites foram infestadas de inferno. Cada momento, maior o som do quebrar das madeiras e, no debater dos seus pedaços, o lento fim do navio. O velho marujo, capitão, conheceu da “pedra-fundamental” à derrocada, quando recolheu os destroços, um a um, dispondo-os na enseada.
Construiu ali, onde as ondas na areia chegam a tocar-lhe os pés, uma cabana. Foi trazendo cada madeira de lá para cá, sem pedaços de umas, sem outras inteiras. Montou seu navio em terra, e o leme foi na frente, guiando as aventuras do louco do mar.
Dia, porém, na calada da manhã, no além da arrebentação, lá foi a velha cabana, levada pela maré. Bem longe dos lugares de areia que ficam perto do mar, e longe do horizonte mais próximo... Gritos de homens, garrafas rolando no barulho das ondas e a brisa, brisando. O velho senhor, na beira do seu mar, assistia a tudo, despedindo-se de si mesmo.
Betina Mariante Cardoso
maio/00

Tuesday, May 30, 2006

...Interrompo meu Diário Pisano com novos planos de viagem. Só por hoje. Edimburgo soou como surpresa, mas não susto. Sobrevoar a Escócia com a imaginação, imaginar novos ventos, novos dias de sol em ruas que não conheço.Caminhar por ruas que não conheço, de uma cidade que não conheço, com um estado de ânimo que não conheço. Agora, sem sustos. Já conheço o mapa, já vi o caminho entre o B&B e o Centro de Conferências. 15 minutos a pé, disse a Susie, do B&B. Os outros caminhos descubro por lá, nos belos dias de sol que vêm pela frente. Estou feliz.Sempre um brinde!
Torno a Pisa, no incessante Diário do Giugno Pisano.
Betina Mariante Cardoso
31/05/2006, em Porto Alegre.
Adendo- Vida Prática em Pisa
31/05/2004
Segunda-feira
Manhã: Fiz o seguro. Pronto só amanhã à tarde.Caminhei até o Ospedale Santa Chiara, descobri a entrada pra Psichiatria- Via roma-Via Savi-Via Bonano.
Almoço na Pizzaria Roma. Sensação de acolhimento, de boa disposição.Vejo os próximos cardápios do período.
Tarde:Uffizio Informazioni
(...) A chuva choveu diferente quando vi o Lungarno sob nova luz. Chovi num cenário que não tinha visto, ainda. Pisa é uma cidade que muda de cenário e de cor. Pisa choveu, eu chovi, a chuva choveu. O frio fez com que eu trouxesse jantinha pra casa. Nova sensação:
LAVAR A LOUÇA NO MEU AP!!!
Penso na lista de compras, pra sujar várias louças no período, com as mais variadas gulodices.
A chuva trouxe uma cara de rotina.De jantar em casa. De dia normal. Espero dormir bem, hoje.
Lista de Compras
-Cerejas
-Iogurte
-Pão fatiado
-Presunto
-Tomate
-Rúcula
- Mussarela Buffalo
-Vinagre Balsamico
-Pano de Prato
-Suco de Laranja
Horários de Pisa
9:00-13:00: Apre!
13:00-16:00:Chiude!
16:00-20:00: Apre...
20:00:Chiude!!!!

Monday, May 29, 2006









30/05/04
- 01:30-Dúvidas sobre o trem.

-15:33, em Firenze, já tendo passado pela Santa maria Novella, Ponte Vechio, Fiume Arno, Lungarni, Uffizzi, lojinha de papéis. Entro, pela Uffizzi, na Piazza della Signoria, talvez o ponto mais feliz da cidade pra mim.Estou aqui, depois de todas as dúvidas, aflições, conjeturas. É só vir, aprendi. Minha pizza chegou. Pizza alle Verdure, e uma taça de vinho branco, de tal suavidade que fiquei quase, ou sim, e definitivamente, em outra dimensão...Olho essa tarde de sol, esse calorzinho, a Piazza della Signoria, essa mesa veramente italiana, e me sinto quase num estado ideal. Paz. Agora, nenhum fantasma me assombra. Uma sensação inédita num cenário muito peculiar. Aqui estou, só a passeio, sem nenhuma pretensão de atravessar filas.Venho pra um passeio de domingo, uma tarde de sol, uma caminhada. Cenas tão belas que fotografo no meu arquivo particular de memórias soltas, que busco aqui e ali quando volto pra vida real. Nem todas as fotos que vejo fotografo...Aquelas tradicionais, sim. Fotografo aqui essa felicidade de uma tarde de sol em Firenze.
29/05/2006.

Me encontro, há dois anos atrás. E atravesso a Ponte di Mezzo várias vezes, em tantos trajetos que até me perco. Refaço caminhos, e escuto sons de antes. Um diário reescrito, passado a limpo, com dois anos de intervalo. Uma releitura estranha, com os olhos de agora. Era medo de atravessar o Lungarno?De chegar à estação? Era medo de ir a lugares desconhecidos, de me aventurar em estar ali? Era medo. Fui indo, e a cada dia um pouco. Hoje refaço aqueles trajetos, que pareciam distantes. Era só pegar o trem, e ir descobrindo como me perder e me achar. Era só caminhar. Atravessar a Ponte di Mezzo era muito mais do que atravessar, mas alcançar lugares fundamentais, como a Feltrinelli do Corso Italia, a Estação, o Correio, onde até nem retornei. As ruas estreitas a serem descobertas. A Estação e os Trens. O Ônibus pra Lucca, e tantos endereços desnecessários, bons de visitar. Reaprendi a sair caminhando, sem propósito. Um chamamento a conhecer, explorar. Foi só encontrar um lugar seguro pra atravessar, e dali em diante atravessei a Ponte di Mezzo todos os dias. E foi por onde vivi todas as peripécias, fotografias, memórias. Atravesso ainda hoje, e vou caminhando. Refazer o trajeto por escrito, com a lembrança do que exatamente me desafiava. Reolhar, com dois anos de intervalo. E atravessar de novo a Ponte di mezzo, fazendo novos trajetos. A Estação, depois do outro Lungarno, e todas as cidades onde queria ir, de trem. Era medo de atravessar a Ponte di Mezzo?
29/05/2004
9:15...11:15...12:00...Perdi o café...Penso em almoçar bem, hoje!
Saio de casa, lembro de uma Osteria na Piazza del Vettovaglie...A primeira imagem é o Lungarno, com sol. Aquela sensação gostosa do calor e da luz do sol batendo nos meus medos. Vou caminhando, sacudo a cabeça e sacudo de novo. Ainda o sol. Entro na Osteria. Ocupo uma mesa de frente pra porta, umas três mesas pra dentro do restaurante. Uma cantininha típica, com uma musica com tom novaiorquino tocando...Lá fora, passando carrocinhas de frutas, muitas bicicletas e os meus pensamentos...Fico olhando pra rua, numa confusão entre a música e as bicicletas, naquele cenário tipicamente italiano. Eu, ali, personagem do meu cenário confuso. Mas muito, muito memorável. Vontade de ficar em silêncio, vontade de olhar ali pra dentro, vontade de olhar pra fora. Aquelas bicicletas são sensacionais...cada uma me surpreende...Pelo inusitado das senhoras de vestido e cabelos brancos, e senhores de terno e maletas andando de bicicleta por aí.
O almoço foi bom. Foi meu. Entrei na atmosfera ítalo-novaiorquina e, servida por um cara muito parecido com o do filme Harry and Sally, tive dúvidas sobre estar ou não em Nova Iorque...Minha imponente taça de Chianti me mantinha na Toscana. Entrei ali pelo Gnocchi, já que é dia 29. Hoje, justamente, gnocchi não tinha. Com a sobremesa apimentada, um vinho doce, advertia o moço aquele parecido com o do filme. Momento inesquecível. Momento aquele merecia um amor pra pensar. Mas eu pensei sobre estar em Pisa, ir à estação, atravessar a Ponte di mezzo pro outro lado. E fui. Descobri como atravessar e fui indo. algo no caminho à Estação me afrontou, e não pude passar dali. Uma livraria. De sonho. Tantos livros, vários pequenos andares, divididos por dois ou três degraus. Lá atrás, um pátio. No entanto, o desafio de chegar à Estação me fincava, e com aquela dorzinha pungente da dúvida e do desejo, lá fui eu...Fui indo, e entrei no prédio errado. Foi assim que eu descobri o Correio!
(É assim que as coisas funcionam com quem não conhece a cidade...)
Descobrir por acaso lugares que teríamos procurado...bem mais divertido...E se chega, afinal.
Cheguei à Estação.
(...)
Vista a Estação, plenejados os próximos trens, comecei a retornar. Caminhando, descobri outras diversas coisas. Entrei, sem saber o que era, no Palazzo Gambacorti, ainda no trajeto de ida. Ida e vinda se confundem, fazendo parte do mesmo passeio. A vinda é tão longa e viva que torna-se ida. Me dirijo a algum lugar, mas pareço estar apenas zanzando. Me aventuro nas entradinhas com arcos que, quando vejo, são novas ruas. E pequenas praças, por toda parte. Passo por uma livraria de Enologia, Turismo e Gastronomia. Descubro o Slow Food. Semana que vem, toda a semana de eventos e degustações, de 05/06 a 15/06. Volto ali.
(...)
Já é fim de tarde. Noite.
Não consigo dormir cedo. Este quarto é grande, alto e aconchegante. Gosto de estar acordada aqui. O cenário é tão peculiar, que dormir é apagar a luz.
Já vou.
Ficam aqui as ruas curvas com arcos, o contraste das bicicletas lá fora com o tom novaiorquino da música, a taça de Chianti, o Slow food, e um tudo que fica, de mais um dia do início.
Betina