Às vezes me vejo rodando por dentro do vidro, segurando com toda força o ponteiro dos minutos, pra não cair. Seguro com as mãos, os braços, sacudo as pernas, sendo levada ao próximo minuto, quase sem própósito. Me rebato no vidro, percebendo não poder sair dali.E sigo, minuto a minuto, minha vertigem. Giros e giros.Vezes, escapa uma mão ou a outra, quase caio. Escorrego, chego a me apoiar com uma das pernas no ponteiro dos segundos, até encontrar novamente o equilíbrio. E lá vou passeando nos minutos do dia, volta a volta. O ponteiro das horas, curioso. Fico nos minutos, pouco a pouco encontro uma posição confortável, ajeito as pernas, me movimento.Danço. Acrobacias. Rodopios. Vertigem. Me arrisco, soltando uma das mãos, e sinto algo como o vento passando por mim, o vento por dentro do vidro. Quem passasse por ali, perceberia detalhe estranho no desenho do relógio. Vou passando. Minutando.Escorregão aqui, outro ali, tropeços, tropicos. Seguro o ponteiro, a mão escorrega, solto e tento cair. Malabarismos no ponteiro. Vezes, um tango. Acabo caindo. De propósito. Sento numa das horas, fico ali por um pouquinho, observando o movimento.Torno ao ponteiro dos minutos, quando passa por mim na volta seguinte. Me espicho e lá estou, em novo passeio.
Betina Mariante Cardoso
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