Definitivamente, sou uma criatura do dia. Do dia de sol. E hoje, em meio a tantas turbulências, rememoro os dias de sol que me fizeram olhar pro céu muito azul e me reencontrar. Dias de céu como hoje. De sol. Sempre acontece de parecer que estou caminhando pelo Lungarno Pacinotti numa hora dessas, em que sinto o calorzinho do sol. Satisfeita, feliz. Indo a lugar nenhum. Olhando a Ponte di Mezzo, sentindo a atmosfera do Lungarno dentro de mim. A tarde da Luminara, aqueles balões coloridos, todos os personagens enfeitando a cidade, colocando velas nas janelas, aquelas barracas de doces. A Regata di SanRanieri, numa tarde de sol. Só pode ser numa tarde de sol. Sentia uma plenitude cada vez que parava entre a via Roma e o Lungarno, olhava os vários tons de sol daquela faixa de prédios em tons pastéis, um contraste rico, uma sensação de leveza. Meus olhos guardam a sensação do Lungarno, guardam a sensação das tardes de sol. Das manhãs de sol até o hospital, caminhando lentamente, escutando a cidade amanhecer. De um sol que vi em Siena, em Lucca, naquele coffe break insuperável, nos passeios sem mapa pelas cidades. Do Sol em San Gimigniano, um sol já indo embora, mas ainda lá. Do sol em mim, quando me sentia chovendo. Do sol no Giardino di Bobboli, em Florença, uma tarde de sol que me capturou. Do sol em lusco-fusco, naquele transe turístico do almoço de Florença: a Piazza della Signoria, eu, a pizza alle verdure, a taça de vinho, o pão, e o sol. Sempre o sol. Do sol nos passeios por Pisa, do sol entrando pela janela enquanto eu desfolhava o manjericão. Nesguinha de sol, mas a sensação do sol na sala, da janela alta, e da mesa. A claridade do sol que vai indo. Mas que fica numa lembrança ensolarada de desfolhar manjericão. A sensação de sair pela rua, entrar numa delicatessen, comprar ingredientes, guardar na sacola e sair, pelo sol. De ir na feira,e escolher de tudo, cerejas, tomates, rúcula, e sol. Um passeio por nós mesmos, pela rua da feira de antiguidades, que começa na Piazza dei Cavallieri e termina na via Santa Maria. E o sol. Sempre o sol. Chegar na villa Bottini, em Lucca, com sol. Gravuras que ficam, e estão. São nossas, sempre sob o sol. Aproveitar o dia, com sol. Em nós, que seja. O ensolarado de um tempo, que a cada novo sol ressurge, como a nova cena, revisitada. Cada dia de sol é um pouco um dia de Lungarno, pra mim. Houve um tempo em que olhava pro céu azul de sol e imaginava como estaria o céu do lungarno naquele momento. Azul. Pisa, olhada de dentro do caffè dell´Ussero, nas primeiras horas da manhã. Un lungo Americano e un budino di riso, olhando o sol pela porta. Pisa tem disso. Dos dias de sol em Porto alegre já falei, há uns posts atrás. Aqui, meu diário Pisano. Lembranças vivas, dois anos depois. Vivas pelo sol do Lungarno, que me faz serenar, pisco e abro novamento o olhar, é um passo adiante com os olhos. Um passo pra dentro, pra olhar o sol. Como hoje, em Porto alegre.
Betina Mariante Cardoso
25 maio 2006.
No comments:
Post a Comment