Química da Paixão
Este seria o aspecto gráfico do caminho das sensações prazeirosas chegando ao nosso cérebro...A beleza na apresentação do doce estimula nosso sentido da visão...O aroma do doce (que se pode imaginar) , é conduzido pelo sentido do olfato. Do gosto, nem se fala...O nome, crèeme brullee, escutamos inebriados. Na colherada, além do gosto, sentimos o tocar do doce. Todas estas sensações são transmitidas ao tálamo, encarregado de avisar à amígdala, estrutura chave na identificação de emoções no sistema nervoso central.
A amígdala recebe "chegou coisa boa", e avisa o hipocampo, estrutura responsável pelo armazenamento de memórias emocionais de longa duranção. O hipocampo recebe a notícia, e diz para a amígdala..."Isso é bom, nós gostamos disso...". A amígdala informa os outros centros cerebrais, inclusive os centros do prazer, cuja susbstância principal é a dopoamina, que, liberada, desperta aquela sensação de bem-estar, uma moleza prazeirosa...A noradrenalina, responsável pela manifestação física de exaltação frente a estímulos prazeirosos- taquicardia, respiração ofegante e suspirosa- salta à frente, e avisa o organismo que está sentindo prazer com esse doce tão bom...
Tudo isso sem que nos demos conta, até aqui.
Áreas de conexão com o hipotálamo comunicam nossos centros de regulação hormonal e homeostase. Tudo de forma muito sublime, ainda que intensa. Todo nosso organismo fica imbuído daquela sensação de prazer. Somos, naquele momento, toda a resposta ao crèeme brullee, cérebro, corpo, sangue, batidas do coração. Isso se chama seqüestro neuronal. Todos os centros cerebrais comprometidos com a elaboração daquela sensação prazeirosa...Todos os neurônios pegando uma colheradinha do doce, não querendo nem saber se tem outras coisas pra fazer. E ainda não elaboramos, no córtex, mas algo nos diz que aquilo é muito bom, que gostamos daquilo, e que deve fazer bem...
Eis que, depois de uma volta pelos centros que regulam prazer, memória, homeostase, sobrevivência, chega ao neocórtex a informação de que acabamos de comer um pote inteiro de crèeme brulle, com sorvete de chocolate, folhas de hortelã e morangos...Uma maravilha. isso depois de uma lauta refeição, com muito vinho e belos pratos. Nosso neocórtex diz que tudo bem, mas que abusamos...que amanhã é dia de dieta, e isso, e aquilo...Já é tarde. Ele só soube de tudo depois de termos sentido prazer, de nossa amígadala e hipocampo terem concordado que aquilo tudo é muito bom, de todos os nossos centros de prazer e gratificação, de sobrevivencia, terem achado que tudo foi uma grande festa. Depois é que o neocórtex foi avisado, soube da algazarra toda. não, não dava mais tempo. Ele pode tentar nos ajuizar, mas com certeza nossas estruturas límbicas estarão prontas amanhã pra mais uma rodada: o centro da gratificação, modulado pela dopamina, vai avisar que quer de novo, o hipocampo registou que o doce é bom mesmo, e deixou gravado.
E o tálamo, quando receber o cheirinho de crème brulle ou ver em outro cardápio, vai fazer o sistema rodar, e tudo de novo: amígdala, hipocampo, centros do prazer, taquicardia. É sempre crèeme brulle. Vai chegar ao neocórtex a informação: "queremos crèeme brulle!!!!"... O tal vai pensar, vai pesar aqui e ali, mas não adianta mais: já ficou com vontade de pedir, também. Ninguém resiste!
Betina Mariante Cardoso
12 abril 2006
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