Friday, April 21, 2006


A sensação é conhecida...O momento em que o garfo golpeia aquela porção de fios, a colher participando do instante, nós tomados por uma emoção, e ao fundo uma trilha sonora sugestiva. Estamos imersos na ocasião, e não deixamos por menos. Arrebatados pela garfada, somos e estamos um constante de garfadas. E entre a próxima e a anterior, inebriados, não falamos com mais ninguém. Mas com todos os nossos sentidos, ali, vivos na sensação, tomados por força apaixonante, um silêncio. Também nos sentimos impedidos de pensar, somos o gosto, a ocasião, o aroma se aproximando...Nossos olhos vislumbram a chegada da próxima e da próxima garfada, enquanto, iludidos, vêem um sem-fim, um seguir-se de fios e fios, uma sobreposição de tempos. "Melhor seria falar de invariabilidade, de um presente parado ou de eternidade (...), e ao mesmo tempo te sentes presa de uma sensação singular que vem não sabes de onde nem por quê: és invadido por uma espécie de vertigem, (...) os tempos confundem-se, misturam-se no teu espírito, e o que se te revela como verdadeira forma de existência é um presente sem extensão..."
Assim, percorremos horizontes e horizontes na imensidão dos fios, reféns de nossos 5 sentidos, impulsionados a loucuras as mais variadas, como, por exemplo...repetir o prato, simplesmente por não podermos interromper o transe gastronômico. Gula, sim. Sempre.

Betina Mariante Cardoso

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