Wednesday, April 26, 2006

Leitores, Escritores, Canetas, Teclados, Editores, Personagens, Páginas, Orelhas, Prefácios!
Na Semana Mundial do Livro, um chamamento em homenagem a todos os que participamos...
...de um paginar constante...de um percurso desenhado pelos Livros que já lemos e os que queremos ler...de uma idéia sobrevoante de um dia escrever (e da noite de lançamento...)
...de uma paixão única que nos escapa ao controle das mãos- rola a caneta pela folha, sem pausa, sem respiração...de tardes entre estantes de livrarias, perdendo a hora do relógio, imersos num tempo imaginário...de um desejo incessante de mergulhar em histórias, estórias, narrativas, esboços, memórias...do simples prazer de segurar um Livro, sentir sua capa, mexer nas folhas, espiar o autor...de etapas de vida marcadas por esse ou aquele...do inédito momento de conhecermos novos personagens e perscrutar seu horizonte...e do melancólico instante de nos despedirmos deles, de seu cenário, ambientação e figurinos...de trechos impecáveis, que carimbam memórias...de autores definitivos, que por tantas noites adormeceram conosco em nossa voracidade por sua leitura...
...E assim por diante...uma homenagem ao Livro, em sua Semana Mundial
Betina Mariante Cardoso

Tuesday, April 25, 2006

FILTRO SOLAR- autor desconhecido

Aproveite o poder e a beleza da sua juventude. Aliás, esqueça-os, pois só os entenderá quando acabarem. Mas acredite. Quando você olhar para as suas fotos daqui daqui uns 20 anos, perceberá, de algum modo que não pode compreender agora, o quanto tinha potencial e boa aparência.
Não se preocupe com o futuro. Preocupação é tão eficaz quanto tentar resolver uma equação de matemática mascando chicletes. Os verdadeiros problemas da sua vida serão coisas que nunca passaram pela sua mente preocupada, mas aqueles que, por exemplo, o incomodaram às 16:00 hs de uma terça feira de ócio.
Faça todo dia algo que o amedronte. Cante. Não seja irresponsável com o coração dos outros. Não tolere que sejam irresponsáveis com o seu. Use fio dental. Não perca tempo com inveja. Às vezes você está atrás e às vezes na frente. A corrida é longa e no final é só contra você mesmo.
Lembre-se dos elogios. Esqueça os insultos. E, se você fizer isso, conte-me como conseguiu. Guarde suas cartas de amor. Jogue fora seus extratos bancários. Espreguice-se. Não se culpe se não souber o que fazer da vida. As pessoas mais interessantes que conheci ainda não sabem. Tome muito cálcio. Seja gentil com os seus joelhos. Talvez se case, talvez não. Talvez tenha filhos, talvez não. Talvez se divorcie aos quarenta. Talvez dance a dança da galinha em suas bodas de brilhante. O que quer que faça, não se parabenize demais e nem tão pouco se diminua. Você tem sempre 50% de chances, assim como todo mundo.
Aproveite o seu corpo. Não tenha medo dele, nem tão pouco do que os outros pensam dele. É o seu melhor instrumento para viver. Dance. Nem que seja na sua própria sala, dance. Conheça melhor os seus pais. Nunca se sabe quando vão partir. Seja legal com seus parentes. Eles são a sua ligação com o passado e os que mais provavelmente ficarão ao seu lado no futuro. Entenda que os amigos vão e vêm, exceto os poucos que deves manter. Se esforce para transpor barreiras geográficas e sociais. Quanto mais envelhecer, mais precisará dos velhos conhecidos. Viaje. Nunca mexa muito com o seu cabelo, ou, quando tiver 40, parecerá 85. Cuidado com quem aconselha, mas também tenha paciência. Conselho é uma forma de tirar o passado do lixo, limpar a poeira, maquiar as partes feias e reciclá-lo para valer mais. Mas confie em mim: use protetor solar.

Saturday, April 22, 2006

Pois que fui na feirinha. Vários legumes e verduras sem agrotóxicos, várias delícias espalhadas, aquela coisa de pegar um pastelzinho de ricota e sair andando, dái mais um pouco um suco. Aquele sol de sábado, todas aquelas impressões. E os assuntos...
Duas vendedoras de banquinhas vizinhas conversavam, vendiam panos de prato com bordados. Passando pela José Bonifácio, dois Brigadianos com um rapaz. A primeira vendedora: "Prenderam ele? ", ao que responde a segunda, num tom de gravidade: "Não. Ele está solto. Ele foi solto há quatro anos. Ele é um assassino. Ele MATOU o Maníaco do Espeto." A ênfase assinalada pelas letras míúsculas, e pelos pontos finais, marcam exatamente o ritmo de suas frases, com pausas sérias, compenetradas. Mas a forma como a senhora fez sua apreciação, além de muito portoalegrense, trouxe um personagem muito interessante ao meu imaginário, o tal Maníaco do Espeto. Talvez pelo tom com que ele foi apresentado, o assassinado, mas principalmente por seu ofício, um tanto peculiar. Do espeto?
Foi cena intrigante, aquela. Ficamos depois elocubrando...o personagem citado, o outro- o que assassinou- e o diálogo das vendedoras...E que bem informada, a que contou. Mas não só contou: convenceu, apresentou dados, narrou o primeiro parágrafo de uma história, que poderia ser muito interessante. Fiquei com vontade de sentar ali pra escutar, muito provavelmente continuaram as duas a tagarelar sobre o tal homem, o que andava junto aos Brigadianos. E por uns minuitos a história prosseguiu na minha idéia, pois perdemos a parte em que a polícia chegou, os murmúrios curiosos dos vendedores das outras bancas, dos passeantes, a curiosidade pelo fato em si. Mais curiosa eu fiquei pela história toda, o assassino, o assassinado, o crime que matou o Maníaco do Espeto. A história anterior: o que fazia, quem era aquele que recebia título tão particular? Todas essas perguntas me tomaram, as idéias me arrebataram, parecia tema roubado de literatura...Lembrei de Tzvetan Torodov, que escreveu "A tipologia do Romance Policial", em que define três tipos deste Romance: Romance de Enigma, Romance Negro e Romance de Supense. Nos três tipos, as narrativas se interpõem, com importâncias variadas, entre os crimes e acontecimentos da investigação, despertando no leitor desejo de conhecer todos os meandros que envolvem a história. Muito interessante, mas merece um post só pra explicar...
Eu ali, não leitora, mas ouvinte, fui apresentada a um Romance Policial de tonalidade intensa, séria, pelos conhecimentos robustos da narradora sobre o fato.
A coisa é que tergiversava comigo mesma, brincava com os personagens, mirabolava crimes do Maníaco do Espeto. Fui interrompida por um novo diálogo, que passou por mim, atravessando meu raciocício. Uma moça que passava balbuciou à amiga, num tom baixo, ruminativo, suspiroso: "Juntei um terceiro arrependimento agora...". E é claro que nova história chamou minha interrogação.
E assim foi meu passeio. Entre árvores, sol, delícias da feira, tantas narrativas. Entre um diálogo e outro, sobrevoava minha curiosidade, até o próximo, por todos os tipos que passavam por ali. Outras conversas eram entabuladas pelos que, cuidando de suas bancas, se entretiam com histórias alheias, contavam impressões, emitiam juízos. Conversas de um sábado de sol.
Mas bem que dariam boas escritas...
Betina Mariante Cardoso
Tem coisas que são de um dia de sol. Em Porto Alegre. Poderia listar várias delas, mas quem lembra de um dia de sol em Porto Alegre sabe. E hoje é particularmente um DIA DE SOL EM PORTO ALEGRE. Aquele solzinho de outono, com ventinho, um céu azul, e a trilha sonora do Zaffari tocando atrás. Não, não é propaganda, mas aquela musiquinha do "Porto Alegre é que tem...um jeito legal" é A MÚSICA pra um dia como hoje. Sim, sou bairrista, adoro a cidade e suas coisas. Hoje de manhã, por exemplo, um dos passeios mais gostosos, e literalmente, é a Feirinha Ecológica da José Bonifácio. E enquanto vamos encontrando sabores e aromas pela feira, vamos também encontrando gentes, vendo os tipos mais portoalegrenses, acompanhando o chimarrão passar pelas rodas. Aquela atmosfera vizinha, do Parque da Redenção, dá um contorno verde para a cena, e com o sol, nos sentimos no nosso pátio de casa. A redenção tem esse tom, de pátio de casa...Um pátio de todos nós. Nossas lembranças de um sempre portoalegrense jeito de viver os dias de sol. Mas a feirinha. Andando, sentindo, comendo pastéizinhos aqui e ali, um chá de mate acolá, estamos em Porto Alegre. Definitivamente. É mais que sair pra ir na feira, é estar nessa cidade, visitar a cidade como se não fôssemos dela, às vezes, mas sempre com a sensação de estarmos revisitando nossas memórias. Curtir a cidade como "turistas acidentais", surpreendidos por um passeio que, embora seja o mesmo, é sempre novidade. Somos nós olhando de outro jeito, o sol com esta ou aquela tonalidade, os cidadãos pela feira. Mas, principalmente, é estar numa cidade que tem uma feirinha ecológica aos sábados. E que é a cara de Porto Alegre. Hoje, sem foto. Mas quem é portoalegrense vai imaginar. Quem não é, vale a pena o passeio.
Betina mariante Cardoso

Friday, April 21, 2006


A sensação é conhecida...O momento em que o garfo golpeia aquela porção de fios, a colher participando do instante, nós tomados por uma emoção, e ao fundo uma trilha sonora sugestiva. Estamos imersos na ocasião, e não deixamos por menos. Arrebatados pela garfada, somos e estamos um constante de garfadas. E entre a próxima e a anterior, inebriados, não falamos com mais ninguém. Mas com todos os nossos sentidos, ali, vivos na sensação, tomados por força apaixonante, um silêncio. Também nos sentimos impedidos de pensar, somos o gosto, a ocasião, o aroma se aproximando...Nossos olhos vislumbram a chegada da próxima e da próxima garfada, enquanto, iludidos, vêem um sem-fim, um seguir-se de fios e fios, uma sobreposição de tempos. "Melhor seria falar de invariabilidade, de um presente parado ou de eternidade (...), e ao mesmo tempo te sentes presa de uma sensação singular que vem não sabes de onde nem por quê: és invadido por uma espécie de vertigem, (...) os tempos confundem-se, misturam-se no teu espírito, e o que se te revela como verdadeira forma de existência é um presente sem extensão..."
Assim, percorremos horizontes e horizontes na imensidão dos fios, reféns de nossos 5 sentidos, impulsionados a loucuras as mais variadas, como, por exemplo...repetir o prato, simplesmente por não podermos interromper o transe gastronômico. Gula, sim. Sempre.

Betina Mariante Cardoso
É mesmo uma coisa de febre terçã...(pelo Aurélio: aquelas cujos acessos se manifestam de três em três dias). Fico um tempo sem deixar sair a febre de escrita, que depois vem à toda. E é sempre assim. Aquele boom de sentar e deixar a temperatura subir no papel...Em que a gente segura a caneta e daqui a pouco ela vai sozinha. Onde estamos naquele momento...?
É uma sensação de correr pelo papel, como se fossem grandes campos abertos. Abrir porteira, olhar o comprido do horizonte. Se espichar na lonjura da escrita. Sair andando, sem hora pra voltar. A caneta nos leva, e vamos nos espichando por caminhos que nem ela conhece, mas arrisca. E é assim que vem a febre terçã. Depois de atravessar horizontes, nos deixamos levar, e levar, e levar. E escrever já não é mais tarefa nossa, mas um seguir a caneta em seus tormentos.
Betina Mariante Cardoso

Tuesday, April 18, 2006

Feliz Páscoa!!!

Thursday, April 13, 2006





Papel Crepon

Esta poderia ser uma fotografia de domingo em sol, em San Telmo, Buenos Aires. Ou uma sobreposição das tantas imagens que a feira nos faz enxergar...Mas uma estória como esta não há retratos que contem.
Por enquanto, basta sentirem o cheiro de uma manhã de domingo por ali: mistura-se, num panelão, o cheiro do sol das onze horas, das peças antigas expostas na feira, dos perfumes das gentes, dos cafés, do tango e do perene; aquece-se a mistura em fogo alto- mexendo cuidadosamente, que fique homogênea- e, no início do borbulhar, joga-se no céu azul de San Telmo.
Em chegando, já nas ruas laterais estão alguns feirantes, vendendo toda sorte de bugigangas antigas ou artesanais. Ali, também, muitos antiquários, de peças de grande valor e sob fraca iluminação, o que confere a tais lojas atmosfera peculiar e instigante. Os gramofones, em vida própria,exibem-se,tocando tangos,fazendo da feira salão de baile...
Dos cafés, há um em especial, em nobre esquina, de nome “Plaza Dorrego”, de fachada cor goiaba com toldinhos verdes, e uma antiga porta de madeira e vidro; lá dentro, um chão em tabuleiro de xadrez sob mesas de madeira, nas quais chegam amendoins vindos de barricas rústicas; soberano, o cheiro do café, tomando o ambiente. Dali, de uma de suas janelas, vê-se
que os passeantes da feira, as figuras exóticas e os dançarinos de tango adentram, sem saber, cena perene e inédita, da qual o olhador é parte.
Pois que estou aqui pra remontar uma fatia desta cena...Em tempos já esfumaçados, certa dupla de dançarinos, Maria Mercedez e Juan Cristoban, chegaram em seu novo palco: a nobre esquina em frente ao café, cenário a que pareciam sempre terem pertencido... Tome-se agora o afinado dos seus passos, o lirismo do seu olhar, a parceria dos seus corpos: eis o motivo por que, em apaixonamento, toda a feira calava-se para admirar seu tango. Olhos que se lembravam de amores passados, choravam outros, esperavam enlevos ainda adormecidos ou, no agora do então, suspiravam enamorados... Todos assistiam, absortos, aos “partners” de San Telmo.
E Maria Mercedez, em sua dança capciosa, esbanjava-se em ventanias corporais, num indo e vindo tão plástico que parecia improviso longamente encenado. Seus ares exalavam drama e instinto, e o que era apenas espetáculo de esquina tomava os visitantes em seu imaginário, incitando os sentidos. Nisso tudo, a dançarina aprendera a desvendar semblantes, talento que resistiu à passagem das fumaças.
E a dupla dançou seu tango por um tempo não contado. A milonga, tristonha, foi adormecendo com o passar, na memória daqueles tantos olhares. Se houvesse palco com cortinas dum veludo vermelho-carne, elas fechariam-se aqui, encerrando um ato...
De Juan cristoban nunca mais se soube; contam que volta à sua esquina em quandos espaçados, lembrando-se da dança, dos galanteios, dos romances. Maria Mercedez tornou-se figura da aquarela, aos domingos, mas os pincéis não a pintam como antes: é hoje dama gorda, usando vestido de flores graúdas(o que aumenta ainda mais sua silhueta), vendendo flores de papel crepon, como recém-saídas de seu vestido... De uma delas, diz ser a “flor do amor”, de atributos misteriosos. Ali, em sua banca primaveril, Maria Mercedez exerce seu antigo talento em perscrutar semblantes, oferecendo a flor tão somente aos olhares de enlevo que vislumbre.
Àqueles já esquecidos dessa sensação ela mostra outros feitos de crepon, mas nunca a misteriosa flor. O engraçado é que, com toda a parafernália, vezes, desaparece aos olhos das gentes que procuram sua flor por capricho...Talvez esconda-se no passado, ou seja ainda ventania.
Dia, dessas cenas que os contos contam, enganou-se a dama gorda, entregando a sua flor a um cortês senhor de barbas espichadas e olhar enternecido, mas que nunca, nunca suspirara pelos arroubos da paixão. Comprou-lhe a flor por colecionador de exuberâncias que era, ilustre milionário portenho... Em meio às fortunas gastas na feira, pagou-lhe ninharia pelo artigo, e esqueceu-se dele numa das próximas bancas por que passou. Se caiu ao chão ou foi jogado, não se sabe, mas ali começaram as estranhezas.
Dum repente, a feira foi tomada pela flor,que surgia em toda parte, exibindo-se nos gramofones, garrafas, janelas...Como por encanto, era como se a banca de Maria Mercedez tomasse o arrabalde, como se aquela plasticidade de sua dança ainda pudesse tomar os olhares de San Telmo.
Num êxtase, as tantas gentes tentavam arrancar as flores, que se punham enrediças em jardins suspensos. O feitiço, no entanto, tornava-se incontrolável, e cada vez mais flores, que sedesmanchavam ao serem tocadas, como feitas a tinta. A feira tomou-se de cores e formas, mas ninguém entendia aquele disparate.Todos pareciam ter esquecido a paixão que o tango incitava, naquele primeiro ato...
Ora, a flor surgiu entre os lábios de um episódico dançarino, naquela mesma esquina. Este, exalando toda alma da dança, arqueou a flor aos lábios de sua “partner”. Traduziu, em acrobacia improvisada, a sublime feitiçaria daquele artefato. Ali, como se os ponteiros rodassem tempos atrás, todos os olhares lembraram-se da sincronia entre Juan Cristoban e Maria Mercedez, desejando enlevo como aquele. E foi assim que, estranhamente, houve um sumiço geral das flores em toda feira, menos na banca florida da dama gorda.
Dali em diante, a tal banca tornou-se a mais procurada, pois todos queriam adquirir o feitiço, poder tocá-lo. Era notícia que se propagava, a do acontecido naquele arrabalde. Então, no lusco-fusco de um domingo, insana veio a ventania, levando as flores de papel crepon a tantas distâncias que nem o tempo soube contar. Maria Mercedez nunca mais foi vista, mas dizem que , vezes, vem uma brisa dançar tango junto aos gramofones vivos de San Telmo.
Betina Mariante Cardoso


Nov/00

Wednesday, April 12, 2006




Química da Paixão


Este seria o aspecto gráfico do caminho das sensações prazeirosas chegando ao nosso cérebro...A beleza na apresentação do doce estimula nosso sentido da visão...O aroma do doce (que se pode imaginar) , é conduzido pelo sentido do olfato. Do gosto, nem se fala...O nome, crèeme brullee, escutamos inebriados. Na colherada, além do gosto, sentimos o tocar do doce. Todas estas sensações são transmitidas ao tálamo, encarregado de avisar à amígdala, estrutura chave na identificação de emoções no sistema nervoso central.

A amígdala recebe "chegou coisa boa", e avisa o hipocampo, estrutura responsável pelo armazenamento de memórias emocionais de longa duranção. O hipocampo recebe a notícia, e diz para a amígdala..."Isso é bom, nós gostamos disso...". A amígdala informa os outros centros cerebrais, inclusive os centros do prazer, cuja susbstância principal é a dopoamina, que, liberada, desperta aquela sensação de bem-estar, uma moleza prazeirosa...A noradrenalina, responsável pela manifestação física de exaltação frente a estímulos prazeirosos- taquicardia, respiração ofegante e suspirosa- salta à frente, e avisa o organismo que está sentindo prazer com esse doce tão bom...

Tudo isso sem que nos demos conta, até aqui.

Áreas de conexão com o hipotálamo comunicam nossos centros de regulação hormonal e homeostase. Tudo de forma muito sublime, ainda que intensa. Todo nosso organismo fica imbuído daquela sensação de prazer. Somos, naquele momento, toda a resposta ao crèeme brullee, cérebro, corpo, sangue, batidas do coração. Isso se chama seqüestro neuronal. Todos os centros cerebrais comprometidos com a elaboração daquela sensação prazeirosa...Todos os neurônios pegando uma colheradinha do doce, não querendo nem saber se tem outras coisas pra fazer. E ainda não elaboramos, no córtex, mas algo nos diz que aquilo é muito bom, que gostamos daquilo, e que deve fazer bem...

Eis que, depois de uma volta pelos centros que regulam prazer, memória, homeostase, sobrevivência, chega ao neocórtex a informação de que acabamos de comer um pote inteiro de crèeme brulle, com sorvete de chocolate, folhas de hortelã e morangos...Uma maravilha. isso depois de uma lauta refeição, com muito vinho e belos pratos. Nosso neocórtex diz que tudo bem, mas que abusamos...que amanhã é dia de dieta, e isso, e aquilo...Já é tarde. Ele só soube de tudo depois de termos sentido prazer, de nossa amígadala e hipocampo terem concordado que aquilo tudo é muito bom, de todos os nossos centros de prazer e gratificação, de sobrevivencia, terem achado que tudo foi uma grande festa. Depois é que o neocórtex foi avisado, soube da algazarra toda. não, não dava mais tempo. Ele pode tentar nos ajuizar, mas com certeza nossas estruturas límbicas estarão prontas amanhã pra mais uma rodada: o centro da gratificação, modulado pela dopamina, vai avisar que quer de novo, o hipocampo registou que o doce é bom mesmo, e deixou gravado.

E o tálamo, quando receber o cheirinho de crème brulle ou ver em outro cardápio, vai fazer o sistema rodar, e tudo de novo: amígdala, hipocampo, centros do prazer, taquicardia. É sempre crèeme brulle. Vai chegar ao neocórtex a informação: "queremos crèeme brulle!!!!"... O tal vai pensar, vai pesar aqui e ali, mas não adianta mais: já ficou com vontade de pedir, também. Ninguém resiste!

Betina Mariante Cardoso

12 abril 2006

Saturday, April 08, 2006

Ricette regionali:
Saltimbocca alla romana [R]
Categoria: Secondi piatti - Carne
Ingredienti:Fettine di vitello, 500 g Prosciutto, 200gOlio di oliva, q.b. Salvia, q.b. Sale, q.b. Pepe, q.b. Vino bianco secco, 1 bicchiere

Preparazione: 1. Posate su ogni fettina di carne, tagliata sottile, una foglia di salvia fresca ed una fettina di prosciutto crudo e fermate tutto con uno stuzzicadenti. 2. Rosolate le fettine in una padella con un po' d'olio, sale e pepe per pochi minuti. Togliete la carne dal fuoco non appena sarà colorita, servite con una salsa caldissima di vino e burro.
Ricetta tradizionale
Aiutandosi con un coltello affilato, eliminare i nervetti e il grasso dalle fettine di vitello. Disporle sul piano di lavoro e tagliarle in modo da ottenere delle fettine più piccole delle dimensioni di quelle fotografate. Tagliare anche le fette di prosciutto adattandole alla carne. Lavare ed asciugare le foglie di salvia.Disporre su ciascuna fettina di vitello una fettina di prosciutto, una foglia di salvia e un'altra fettina di prosciutto. Fermare il tutto con uno stuzzicadenti come se si trattasse di uno spillo. Mettere 30 g di burro in una padella a farlo sciogliere; aggiungere i saltimbocca, salarli ed eventualmente peparli. Farli cuocere per 1 minuto su di un lato, girarli e completare la cottura per un altro minuto. Toglierli dalla padella e tenerli al caldo. Aggiungere il resto del burro nella pentola insieme ad un cucchiaio d'acqua; cuocere la salsina su fuoco vivace fino a quando non si restringe. Versarla sui saltimbocca e servire immediatamente.Questo piatto può essere accompagnato da patate, piselli, carote.
Regione:
Lazio
Un po' di storia
Difficile definire la vera origine di questa ricetta. Pellegrino Artusi l'ha descritta fin dalla fine dell'800. L'aveva assaggiata nella trattoria romana "Le Venete" e sembra che comunque venisse passata come autentico piatto romano almeno in un'altra trattoria storica della Capitale. Qualcuno ha voluto, successivamente, rivendicare un'origine bresciana. Si tratta, in ogni caso, di un piatto ormai conosciutissimo in tutto il mondo, forse il piatto italiano più noto dopo gli spaghetti all'estero. E' sinonimo della cucina romana a tutti gli effetti.Nel tempo la ricetta ha subito delle varianti; qualcuno infarina i saltimbocca prima di metterli nella padella probabilmente per aumentare la capacità di assorbire i condimenti. Qualcun altro aggiunge il vino invece dell'acqua al fondo di cottura per rendere l'intingolo più saporito oppure addirittura brandy o cognac. Altri arrotolano i saltimbocca dopo averli preparati con tutti gli ingredienti.

Tuesday, April 04, 2006

NAS NOITES

Caixa dos sonhos: de retalhos de cetim, cores e formas. Frenéticas imagens dum caleidoscópio. Lá o dramaturgo, inventando estórias ao bel prazer. E o tal mexe e remexe nas cenas da caixa, contando o tempo, sequenciando os sonhos. Em cenários, figurinos e fundos musicais, personagens encenam papéis tantos na mesma noite que até mesclam-se os roteiros. Num girando e noutro do caleidoscópio, imagens incessantes, pantomimas, comédias e melodramas revolvem-se no sonhante.
Seriam apenas os jogos ópticos do imaginoso dramaturgo?
Sem idade, sem semblantes. Genialidade tanta que confabula tramas sem qualquer juízo; puro deleite. Num girar de espelhos, faz bailarem rotineiros e inacontecíveis. Minucioso no cálculo das figuras e nas falas das gentes, faz sempre soar a improviso. Do esquecimento do dia seguinte, uns sonhos guarda na caixa da memória, esculhambados; outros fogem por frestas, passando na tela como imagens ruidosas. Alguns, mais exibicionistas, lançam-se esbaforidos à sala de projeção.
Estórias repetem-se, ou ficam escondidas para nunca mais. E há os não legendados, as dublagens mal-feitas. Indecifráveis.Tudo obra do dramaturgo, diagramador de devaneios e estranhezas. Noites, aparecem gentes de antes, em cirandas com o agora; manhã, fica um zumbido, que é o finzinho do sonho, insistindo em não se esconder.
Ele, diligente, encerra seu ofício na calada matutina, resgatando cenas às suas devidas caixas -que não baguncem os dias!- Descansa no acordar do sonhante, sempre em sorrateira vigília, capturando acontecidos.
Madrugada, um sortilégio sem cabimento tomou conta da caixa de sonhos, arremeçando-se nos cenários pitorescos do dramaturgo. E o feitiço atiçou personagens pachorrentos, velhacos, palpiteiros, e tantos outros, insinuando que zombassem dele.
Feito refém pelos algozes, incrédulo daquilo tudo, viu-se ali, atormentado, sem poder sequer acordar. No caleidoscópio surgia, impressionista, o retrato do seu cativeiro: um castelo de areias da praia, com janelas altas, de onde se avistava o desaguadouro de uma cachoeira de cristais na água do mar; no entorno, montanhas desafiando um horizonte traçado a régua.
Era conluio aquele, de loucos de dar nó. Queriam libertar o imaginário, abrir suas caixas, desordenar a casa. Em trapaça bem aplicada, ludibriaram o dramaturgo, trancafiando-o, amordaçando seus gritos, cobrindo-o de maltrapilhos. Preso por correntes de conchas, em punhos e tornozelos, nutrindo-se dos grãos de areia que se soltavam do teto do castelo: assim viveria, contando só a passagem dos crepúsculos, sujeito às próprias tempestades.
Tentava acordar-se, voltar pra casa; remexia-se todo, ferindo-se com as conchas. No enquanto, sonhos misturavam-se em estórias atônitas que, sem o tal, se escreviam. A bagunça foi tanta que até o sortilégio se assustou. Na caixa da loucura, vez, chegou um impresso, informando do estado da casa, que já confundia sono e vigília. Cenários atormentavam os sonhantes em seus acordares, viveres, sonhares.
Todas aquelas comédias, suspenses, terrores, dramalhões, num vendaval de fumaças que surgia em horas desmarcadas. E o dia e a noite tornaram-se longa seqüência de filmes, projetados em paredes episódicas... Libertos de suas caixas, sonhos, memórias, devaneios, segredos, diabos, ventos e tempos: todos invadindo a represa do insano, atirando-se em humores caudalosos, sem qualquer milícia.
Declarado Estado de Sítio, em nome do caos vigente. Um burocrata da Caixa da Loucura, que recebera o impresso, tratou de contratar, de imediato, novo dramaturgo para aquele caleidoscópio, sugerindo que terceirizasse os ofícios e renovasse os estoques das caixas. Que o antigo Rei, enlouquecido pelos devaneios, desaparecera entre as areias do castelo...
Betina Mariante Cardoso
nov/00- revisto abril 2006

Monday, April 03, 2006

Às segundas-feiras sempre tenho a sensação de reticências...
Betina Mariante Cardoso

Saturday, April 01, 2006

" As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexpremível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou."

Rainer Maria Rilke
Cartas a um jovem Poeta

A SENHORA


Já sabia Eubúlides de Mileto que a mentira ainda ía dar o que falar. Aí, sofismou: “Se algúem afirma ‘eu minto’, e o que diz é verdade, a afirmação é falsa; e se o que diz é falso, a afirmação é verdadeira.” Parece, entretanto, paradoxal falar em sofisma, quando o sonho da Mentira é tornar-se insofismável...

...Agora, lembrando, Ela chegou. Senhora muito elegante, de expressão envelhecida, com olhos da ingenuidade anuviada das moçoilas descobrindo mundos. Mesmo tempo, naquele semblante, algo sorrateiro ( acho que está nos cantos da boca, que se movimentam, um de cada vez, dissimulando a própria identidade).

De vestes caras, escurecidas da cor da noite. Apenas certa luminosidade, dando balanço ao tecido sedoso. Adereços ricos em detalhes únicos; jóias de brilho irresistível. E pompa, muita pompa. O ar envelhecido não faz rugas nem manchas no rosto, transpassa por ali o peso das idades. Tantas, remontam os lugares por onde já esteve. Longilínea em suas formas, mas de belos contornos, exibe a habilidade e segurança do equilibrista na corda do circo.

Ele, seu “cliente”. Vezes, seu servo. Delira diante de sua perfeição, do caráter instigante, e tem, com sua algoz, esquisita simbiose. Formam, a Mentira e o Mentidor, casal de interesseiras relações: Ele, a Ela se rende, escapando do anonimato com o brilho de suas jóias; Ela o seqüestra e seduz, obrigando que propague, aos quatro ventos, suas epopéias e luxúrias.

Ele até sabe, de si para si, das próprias fraquezas.
Eu, aqui cá comigo, fico pensando: Quem mente é o Mentidor, ou é a Mentira que se impõe, mentindo por si só? Seria o Mentidor refém de suas práticas, ou cúmplice em suas artimanhas...? Bom, a gênese de Mentira está em si mesma: sendo mais forte, persuade o Mentidor. Em eixos cartesianos, Ele está em função dos seus caprichos. Ela criou seu personagem, Ele paga preço pela nobreza... A simbiose pode até ser friável: torna-se sólida, ao compartilharem o brilho.

É Ela quem faz tremerem os brios do Mentidor. Ele diz da impossibilidade de recusar sua visita: é anfitrião de honrar com compromissos.

Não mentem um para o outro: entre si, são guardiões de sua história, de seu caso de amor. Ele exalta a perfeição, o fascínio e a riqueza daquela que é sua amante e sua algoz; Ela, senhora da situação, chega sem pedir licença, ocupa espaço, diz a que veio; Ele, em êxtase, mente a mentira perfeita e sabe nunca ter sido traído; Ela, de pernas longas, não dá passos em falso; Ele vangloria-se por bom mentidor, mas está mentindo: aqui, quem mente, é Ela. Mulher de fibra, essa tal Mentira: faz-se essencial.

Algumas falsárias tentam imitá-la, mas não são sequer longilíneas: têm as pernas curtas. Nem são espertas ou elegantes. Não percamos tempo com elas, pois nunca serão A Senhora; nunca renderão qualquer mentidor.

Nossos personagens seriam ideais. Até aqui. Agora, desmascarados. Completam-se, compondo um sofisma. Desfazem-se os personagens. Mas... supondo que estamos num delírio ( que o delírio nunca sabe estar delirando), retomemos os personagens.

Ele aceita sua presença, acostuma-se com Ela, torna-se dependente; Ela o subjuga, e este é seu preço de meretriz. Vezes, Ele desacredita de sua lealdade: percebe que Ela, antes de querer-lhe bem, deseja a sensação de poder, o monopólio, a supremacia. Ela faz dele gato e sapato; mas Ele, senhoras e senhores, santo que não é, desfruta de um corpo ao seu bel prazer, usa seus brilhos e o macio de suas sedas. Deita-se com ela, esbanja-se de luxúria dia e noite, e ainda faz sucesso ao proclamar seus feitos, que nem são seus.

Todos olham para Ele, admirando suas façanhas. Detalhes estruturados, respostas planejadas. Tudo vale, em nome do exercício perfeito do próprio título de Mentidor.

Ele vai ficando onipotente, onisciente; Ela, um dia, vai cobrar-lhe os lucros.
E cuidado, o Mentidor: se hoje leva os louros da vitória, só há uma traiçoeira - a falta de memória...

Tem mais: o subterrâneo da Mentira expõe sua obviedade. A perfeição é tanta, que nós, acostumados à imperfeição inerente às histórias da vida, já sabemos que deve ser mentira. Ele, de herói, passa a mentiroso, o que é diferente de ser Mentidor. Do mentiroso, já se sabe que mente; o Mentidor ainda tem crédito. Por enquanto.


Mentira e Mentidor. Amantes. Entre as quatro paredes, herméticos. Ela o “escraviza”, Ele não reage; Ele esplora-lhe as carnes, Ela cobra seu preço. E se forem descobertos, e a verdade vier, enfim? Criminosos!

E então, o Juiz:
-A culpa é da Mentira! Surpreende o Mentidor... a ponto de ele não resistir à perfeição de ser o autor.

Betina Mariante Cardoso - maio 2000- revisto 01/04/2006
Qual será a pontuação da mentira...?
Um ponto final poderia torná-la definitiva, incontestável.
Betina Mariante Cardoso
primeiro de abril de 2006