Friday, March 31, 2006

Revisitando


Vivemos mil vezes cenas revisitadas, e, quando inéditas, são um prefácio das próximas revisitas...Nem imaginamos e nosso passo inédito, tão longe de tudo o que já foi vivido, tão em compasso com outro tempo da vida, é o mesmo passo, mesmo ritmo, mesmo impulso. E ainda assim, soando tão diferente...Por onde se anda afinal? Revisitamos por vontade, revisitamos por configuração, revisitamos sem saber...? Seremos os mesmos da cena primeira - a origem das revisitas? Ou somos a melhor cópia, revisitando a cena , já conhecendo o epílogo...?
A cena revisitada continua a mesma. O cheiro é o mesmo, o estilo literário ainda é o mesmo. Sabemos disso, e revisitamos outras e outras vezes, em outros lugares, com fundo musical e figurinos adaptados. E a cena revisitada continua a mesma. Olhamos em volta, buscando lá longe algum traço de modernidade, algum momento de surpresa, tudo tão diferente...e tudo igual.
...E então...Revisitamos para mudar o epílogo, ou justamente por apreciarmos o anterior...? Fazemos incríveis descobertas , e, na primeira oportunidade, pagamos uma excursão à cena revisitada, como expectadores de nós mesmos num tempo outro, ainda antes de qualquer descoberta, virgens dos olhos de agora. E, na revisita, mexemos em coisas, mudamos prefácio, seqüência e epílogo, burilamos a cena revisitada, tentativa de torná-la tão melhor como nós estamos... Ao tentar mexer, nos encontramos com nossos originais, nos vemos neles até...

E la´estamos nós, de novo.


Betina Mariante Cardoso 21/09/03

Thursday, March 30, 2006

PERENE
...Agora deve ser um horário perto da meia-noite... Fim de quinta, início de sexta. E tem amanhã, e depois da manhã. Dias de fim de mês, dias de início de mês. Repetições, mas novos parágrafos. Canso de todo dia, mas cada dia novo me anima, um respiro de aventura. Lembro que um mês se foi, e já são três de um ano que recém começou. Angústia. De novo: repetição e novidade. Como cada turno do ano, cada estação, cada memória. O fim é definitivo, amanhã o início começa de novo.
Betina Mariante Cardoso
"Il vino parla. Lo sanno tutti. Guardati in giro. Chiedilo all´indovina all´angolo della strada, all´ospite che non è stato invitato alla festa di nozze, allo scemo del villagio. Parla. È ventriloquo. Ha un milione di voci. Scioglie la lingua, svela segreti che non avresti mai voluto raccontare, segreti che non sapevi nemmeno di conoscere. Grida, declama, sussurra. Racconta grandi cose, progetti meravigliose, amori tragici e tradimenti terribile. Ride a crepapelle. Soffoca piano una risata fra se. Piange per i suoi stessi pensieri. Riporta alla mente estati di molto tempo fa e ricordi che è meglio dimenticare. Ogni bottiglia un soffio di altri tempi, di altri luoghi e ciascuno è un piccolo miracolo, dal più come Liebfraumilch all´imperioso Veuve Clicquot 1945. Magia quotidiana, così la chiamava Joe. La trasformazione di una sostanza di base in quella dei desideri. Alchimia dei profani [...]"

Harris J., Vino, patate e mele rosse. In: Rita Rutigliano- Spunti e Spuntini Letterari. Collana Cibo di carta. GS editrice. 2000; p.97
Letícia W. - Texto encaminhado pela Bibi
"Casamento com festa e presentes enche os armários da casa nova. Eu sempre gostei de dar taças e cálices para os noivos. Nem costumo o-lhar aquelas listas que ficam nas lojas - taças, eu quero taças. Que um casamento se inicie com um armário cheio delas. Noivos que não pedem cálices e taças não estão casando para ser felizes, e eu tive prova disso num casamento para o qual fui convidada alguns anos atrás: na lista, só havia panelas, pratos, eletrodomésticos e jogos americanos. Muita vida real para qualquer começo; assim, dei um jogo de taças. Não adiantou muito: alguns meses depois o casal se separou, e as taças devem ter ido parar num quarto-e-sala de solteiro. Mas o fato é que a vida precisa de brindes... Creio que no fundo desses delicados bojos cristalinos habita um eterno convite à alegria: o começo de uma vida nova merece comemoração, e toda vida que se perpetua também pede o seu tintim, mesmo que ele seja simbólico. Com o passar do tempo, no entanto, as taças vão desaparecendo; um belo dia, a gente abre o armário de louças e se dá conta de que aquelas taças que a vovó nos deu já não existem mais, e fazer um inventário dessas perdas é uma aventura interessante. Um brinde de Natal, e pum!, uma taça vai se embora. Aquela noite romântica e um arroubo na semi-escuridão da sala: mais um gol. Uma antiga festa de aniversário, e a sua melhor amiga erra a linha divisória entre o fim da mesa e o começo do caminho que leva ao chão. Assim vão sumindo os cálices e as taças da vida da gente. Mas vão ficando os momentos. Ontem à tarde, por exemplo, comecei a arrumar a mesa para um chá de fraldas aqui em casa e vi que meu armário estava bastante desfalcado - não foi difícil nem triste lembrar como meus cálices foram partindo, um por um... Foi bom. E gostei dos conjuntos desfeitos, da mesa com as taças diferentes, onde tantas vezes confraternizamos com amigos queridos, brindando filhos, empregos novos, aniversários e reencontros. Depois, durante a festa, mais uma das minhas taças se foi. Uma taça de cristal polonês que morreu com elegância derrubada pelo babado do vestido de bolinhas de uma loira menina de três anos. Rimos todos, porque a pequena Camila sequer se assustou com o sucedido, e adorou quando alguém lhe contou que taças quebradas traziam sorte. Essa, no caso, vai nos trazer mais do que sorte. Vai nos trazer a querida Ana - que hoje, enquanto escrevo, ainda não nasceu, mas que pode estar no colo da sua mãe quando este texto for publicado, sob os olhares atentos da irmãzinha Camila. Por enquanto, seguimos esperando a sua chegada. Mas no armário de louças aqui de casa, o espaço que sobra já é uma alegria a mais. "
leticia.wierz@zerohora.com.br
Longos e Black-Ties
Preparava-se pra estrear vestido novo em festa de longos e black-ties. Trajada de piquenique. Às costureiras explicava que era de praxe, tentava desenhar o corte, a largura do xadrez, o tom de vermelho. Nada. Chapéu de tule, fitas e lenços ventosos. Ninguém se convencia. As mucamas, contrariadas, decidiram. Não passariam o vestido. Vergonha. Mesmo assim, estaria à paisana.
Na cesta, um lenço de cetim azul. Pra mudar o tom durante. Salto-alto de verniz, vermelho como o do xadrez. Tecido capcioso, o do traje. Vestido inteiro, mostrava no croqui. Alcinhas, dois botões no busto aparecendo, e uma queda suntuosa, sem quebrar o movimento regrado do xadrez. Queria esticar-se sobre o tecido, ao deitar na grama. Não teria grama, contestavam as costureiras e mucamas, quase em motim. Não ficaria bem, era outro tipo de festa. Retrucava que a textura era tudo. Textura de traje de piquenique.Descobrissem. Mandassem buscar o corte. Pois bem. Era a dona da casa.
Confusão deu na hora de mandar fazer os convites. Traje? Longos e black-ties, mas a dona vai estar de piquenique, diziam as fofoqueiras da casa. Ora-bolas. Como assim? A notícia se espalhou. Mandou buscar uma seda caríssima, dizia uma. Chapéu em tule escandinavo! Tule escandinavo? E com detalhes em copo-de-leite. Vai jogar buquê de copo-de-leite? Não, é bodas. Não tem buquê em bodas. Não é festa de bodas. Aniversário, será? Só diz a data, local e traje. Horário convencional. Não diz se é pra levar presentes, se tem lista. Não tem nem nomes no convite. De quem é a festa? Quero ir.
Dizem que a dona vai vestir modelo tafetá em piquenique, xadrez vermelho desenhado por estilista italiano. Só podia. Ela é a dona da casa, pode. Não pode, dizem as costureiras, ofendidíssimas. Revelaram o segredo, de propósito. Era pra ser surpresa, inusitado, caleidoscópico. Mudaria de tom com o lusco-fusco da festa, dos pisca-piscas, do lenço azul. E o tule, que deixaria passar a luz, em jogos de sedução. Cabelos soltos, escuros, sob fitas de um tecido mole. Tudo pronto, mirabolado. Um xadrez mambembe, vermelho.
Era um longo, como mandava o figurino. Porém campestre. E era segredo. Não era mais. Tudo revelado, todos comentando. Colunas sociais, manchetes no diário da cidade. Fofocas. Piquenique, estava decidida. Mas...Não tem mas. As mucamas enlouqueceram: o vestido não amassava, não poderiam mais ameaçar. Os convidados, em dúvida, não sabiam pra quem ligar pra saber como mesmo ir à festa...Uns separavam já seus bermudões de verão, e as senhoras seus florais. Era o comentário. A soberba da cidade já caía, seguindo a ricaça original. Piquenique,mesmo? Ela enlouqueceu? Na igreja, missa de domingo anterior, ninguém prestou atenção no Padre. Preocupadíssimos em não cometer gafes, combinaram. Iriam de piquenique.
E o horário da festa...? Não cabe, contestavam as mais pudicas. Dizem que é transparente o xadrez, e que se ventar já viu. Parece que está bolando alguma coisa com as fitas do chapéu...Os senhores, os mais assanhados, olhavam com gostosura seus suspensórios e gravatinhas-borboleta. As donas de casa já combinavam cada uma de levar um prato, feito quermesse. Doce ou salgado, tinha na paróquia a lista de quem levaria o quê. A festa é na província, diziam uns, gente de posses, não precisa levar nada.
E a cidade organizou, naquela semana, uma grande festa. A toalha em xadrez verde prepararam as mais prendadas na costura, num ti-ti-ti sobre o pan-dan da toalha com o vestido da madame. E todos, que se preparavam para uma festa de longos e black-ties, chegaram cedo naquela manhã. Florais, petit-pois coloridos, trajes os mais alegres. Doces e salgados, baralhos de cartas, garrafas de vinho. E muita música. Acordaram a dona da casa, mandaram que se arrumasse pra festa, com tudo o que tinha direito. Chapéu de tule, laços, saltinho de verniz. Bom Dia, o que desejam? Mudaram o horário convencional, a festa seria de dia todo. Levanta, estão todos lá embaixo.
As mucamas nunca souberam explicar. Conta-se que dali em diante sumiram, cantando, carregando as cestas, as taças, puxando uns aos outros. Esticaram a toalha xadrez pelos campos, fizeram remedos com pedaços dos vestidos, pra esticar ainda mais. Prendiam no chão com os suspensórios, pro vento não levantar. E foram seguindo, junto com a toalha, o tecido da dona da casa. A cidade, perplexa, desabitada. Lá longe, sombras dos bordados e chapéus, da cantoria e do vento.
Betina Mariante Cardoso
maio/2005
Dois pontos, travessão. E assim começava o diálogo.
Betina Mariante Cardoso

Wednesday, March 29, 2006

ITINERARIES By Evgen Bavcar
I was only seven years old when my father died. The most vivid memory I have of him is of a toy gun he made for me, as if to say to me: never stop fighting destiny. I was still unaware that I belonged to a small nation threatened by others. How could I have realized then that it would be the same for me and that I would need so much energy to defend my own identity?
I was a terrible child, who the teachers could hardly teach. I especially liked technology and reading. One day a branch damaged my left eye, and I was unable to predict the great calamity which had been forewarned. For months, I observed the world with just one eye, until one day a mine detonator damaged my right eye as well. I didn't become blind immediately but little by little, it went on for months, as if it were a long farewell to light. So all the time I had to quickly capture the most beautiful things, images of books, colors and celestial phenomena, and to take them with me on a voyage of no return.
While I still detected some traces of light and color, I was happy because I could still see. I retain a vivid memory of the moments of my farewell to the visible world. But monochromy invaded my life and I have to strive to retain the palette and its hues. I color the objects and the people that I touch so that the world escapes from monotony and transparency: I know a woman whose voice is so blue that she manages to paint a gray autumnal day blue. I came across a painter who had a dark red voice, and chance willed that he should love this color; that gave me a dark delight.
I sense the sun by its thermal effects, but I can make mistakes. One day something happened at a friend's home, whose apartment I didn't know well; as I know where the window is in advance by the noise in the street, I said: "The sun is strong today!", but I was unaware that it was a radiator that gave us heat. We laughed together. At the beginning of my blindness, when I took it more seriously, I used to wear very dark glasses to exaggerate my condition; nowadays I use clear glasses to look like an intellectual.
In museums or in exhibitions I enjoy the presence of all the silent gazes, the sound of steps that I perceive even when listening to the voice of my guide, who tries to convey his own gaze to me. Sculpture, on the other hand, gives me an immediate aesthetic feeling, insofar as I have been given permission to touch the statues, something that is not very common. To touch them is my own way of penetrating the myth of Eros and Psyche, which in every other way I am outside. The pale reflection of the oil lamp which for me symbolizes the world of appearances has disappeared. The nostalgia for those inaccessible realities and the desire to embark on the road that leads to them remains.
The intellectual nature of my perception urged me to take my first photos one day, but without any artistic pretension. The smooth surface of the images taken by the camera do not look at me, I only have the physical proof of landscapes and people that I have seen or met. That is to say, my gaze exists only through the simulacrum of the photo that has been seen by someone else. That gaze makes me happy and induces the images to come to life inside me.
There is also the mystery of the human gaze that greatly interests me; in my photos, in fact, the people appear very different before the lens and before themselves. They are different when faced with an unknown or infinite darkness. The absence of the photographer's eye is accentuated by the precarious irreversible moment of taking a photo; that photo which by coming from a hidden gaze is transformed into a kind of double death. The people who are photographed cannot see themselves in the usual way: that complicity between the photographer that confirms them in their narcissism is implicitly missing.
So what is a gaze? It is perhaps the sum of all our dreams in which we forget the nightmare, when we can look in a different way. Besides, darkness is no more than an appearance, given that everyone's life, however dark, is also made up of light. And in the same way as the day often breaks with birdsong, I have learnt how to distinguish the voice of the morning from the voice of the night.

Taken from Evgen Bavcar, Le voyeur absolu, Seuil, Paris.

Evgen Bavcar citado em

Saturday, March 25, 2006

Se tem coisa que não é fácil é aquilo de inventar personagem. Ainda mais de gente que existe. Fico tentando mudar coisa aqui, coisa ali. Dali a pouco, aparece a figura na frente, aquela mesma que tentávamos esconder. E nada de véu. Vem assim mesmo, escrachada. O esconderijo que armamos rebuscando seus trajes é insano, o sujeito da escrita nem quer se esconder. Esconderijo que vira armadilha, queremos contar. De um jeito poético, literário, mas delatar.
Lá, nu. Existe. Por isso que melhor mesmo é invenção de gente que não existe, botamos no mundo pra servir à nossa obra, e deu. Fica lá. Personagem é personagem. É pra não existir. Só entre vírgulas.
Betina Mariante Cardoso
Ah. Ponto de interrogação pouco usei. Mas é um personagem interessante.
Betina Mariante Cardoso
março/2006
Faz tempo que descrevo intersecções. Hoje pensei. Todas as intersecções. Descritas. Em meio a propostas de labirintos, coreografias, caleidoscópios, fórmulas. Todas as possibilidades. Conto, poesia, qualquer formato. Crise de escrita. Primeiro, reticências: forma de andar no labirinto. Ponto e vírgula, ponto, frase corrida. Sempre dois mundos, em paralelo, cruzando lá adiante, no último parágrafo. Imagens caleidoscópicas, que trasnfiguravam. De repente, acabou o assunto. E hoje soube de cenário que daria bom conto: não posso escrever. Fofoca de gente de verdade.
Mas a cena é tão absurda que eu até diria ser extraída de um conto fantástico, que a realidade roubou.

Betina Mariante Cardoso
26/03/2006

Thursday, March 23, 2006

Um dia aconteceu comigo. Tecia uma manta, a linha começou a enroscar pelo tornozelo. Eu, mergulhada no tear, nem senti. Foi se enroscaaaando, eu anestesiada no vai-vêm daquela construção. Era parte dela, até. Ali, onde todos os mundos se entremeavam, a cada passagem do novelo de lá pra cá, daqui pra lá. Pensar não pensava. Memória de cidades, de relógios, de gentes. tudo passando em mim, com a linha. Memórias de quereres, de nuvens, de ventos. De dizeres. Dos pontos que a agulha passa, aqui e ali, pra firmar a obra. Alinhavos. Sons de tudo, no burburinho de uma conversa ao meu redor. E dentro.
Não poderia escapar, foi num ainda início, muitas idas e vindas desde lá. E eu. A linha. Eu. A linha. Do tornozelo, passou à perna, subindo. Continuou subindo. Traçando um caminho até o tear. Eu. A linha.Eu. A linha. Eu. A linha. Anestesiada, entre os fios do urdume, eu. A linha. Subindo. Eu. Era, com minhas cores, nuances do tecido. Eu, ali. Agora, parte daquele tear montado. Linhas e linhas. E Eu. Pronta a peça. Tecido de lembranças enredadas, de linhas de tempo daqui e dali. A Linha. Eu. A Linha. Eu. A Linha. Eu. A Linha.
Betina Mariante Cardoso
23/03/2006

Tuesday, March 21, 2006

"Stai per cominciare a leggere il nuovo romanzo Se una Notte d´inverno un Viaggiatore di Italo Calvino.Rilassati.Raccogliti.Allontana da te ogni altro pensiero. Lascia che il mondo che ti circonda sfumi nell´indistinto. La porta è meglio chiuderla; di là c´è sempre la televisione accesa.Dillo subito, agli altri: 'no, non voglio vedere la televisione!' Alza la voce, se non ti sentono:'stò leggendo! Non voglio essere disturbato!' Forse non ti hanno sentito, con tutto quello chiasso;dillo più forte, grida: 'stò cominciando a leggere il nuovo romanzo di Italo Calvino!' O se non vuoi non dirlo; speriamo che ti lascino in pace.
Prendi la posizione più comoda: seduto, sdraiato, raggomitolato, coricato.Coricato sulla schiena, su un fianco, sulla pancia. In poltrona, sul divano, sulla sedia a dondolo, sulla sedia a sdraio, sul pouf. Sull´amaca, se hai un´amaca. Sul letto, naturalmente, o dentro il letto. Puoi anche meterti la testa in giù, in posizione yoga. Col livro capovolto, se capisce.
Certo, la posizione ideale per leggere non si riesce a trovarla. una volta se leggeva in piedi, di fronte a un leggio. Si era abituati a stare fermi in piedi. Ci si riposava così quando si era stanchi di andare a cavallo. A cavallo nessuno ha pensato di leggere, eppure ora l´idea di leggere stando in arcioni, il libro posato sulla criniera del cavallo, magari apesso alle orechie del cavallo con un finimento speciale, ti sembra attraente. Coi piedi nelle stafe si dovrebbe stare molto comodi per leggere; tenere i piedi sollevati è la prima condizione per godere della lettura.
Bene, cosa aspetti? Distendi le gambe, allunga pure i piedi su un cuscino, su due cuscini, sul bracciole del divano, sulle orecchione della poltrona, sul tavolino da tè, sulla scrivania, sul pianoforte, sul mappamondo. Togliti le scarpe, prima. Se vuoi tenere i piedi sollevati; se no, rimettitele. Adesso non restare lì con le scarpe in una mano e il libro nell´altra.
Regola la luce in modo che non ti stanche la vista. Fallo adesso, perchè appena sarai sprofondato nella lettura non ti sarà più verso di smuoverti. Fa´in modo che la pagina non resti in ombra, un addensarsi di lettere nere su sfondo grigio, uniforme come un branco di topi; ma stà attento che non le batta adosso una luce troppo forte e non si rifleta sul bianco crudele della carta rosicchiando le ombre dei caratteri come un mezzogiono del sud. Cerca di prevedere ora tutto ciò che può evitarti d´interrompere la lettura. Le sigarette a portata di mano, se fumi, il portacenere. Che c´è ancora?Devi far pipì? Bene, saprai tu. (...)"
Se Una Notte d´Inverno un Viaggiatore
Italo Calvino
(...) Tenho medo do escuro das novas páginas; não da escuridão. Não é possível dizer que o medo é de contar nova história, mas de surpreender-se com a leitura, o contador. Ainda, prefiro essa aventura ao prosaico clarão das historinhas. De um tudo, somos cá personagens de enredo incomum (desde um sempre) de inusitados capítulos e, nestes, loucos diálogos e insanas efervescências. Por assim dizer, vamos vivendo e contando, que, vezes, virá a brisa brisar, outras, virão furacões. Mas, nessas páginas, sempre estará o vento. Acredito que as histórias desvendam seus leitores, muito mais do que o contrário, e me ponho despida para tal escrutínio...
Betina Mariante Cardoso
nov/2000

Monday, March 20, 2006

Outonal
Estação de ventos
Que vento ventando aqui...
Revolvendo
Em mim
Começo e fim
de verão.
Outonando
Minhas palpitações
Não como brisa.
Vendaval e trovões

Betina Mariante Cardoso
20/03/06

Sunday, March 19, 2006

TRILHAS
Abri a porteira e deixei o mar correr campo afora. Era onda pra todo lado, tanto horizonte de campo e de mar que me perdia olhando. Momentos, era como estar me afogando neste sem-fim, parecia não ter encruzilhada ou arrebentação. E o vento a sacudir a vela pra lá e pra cá, num jocoso balançar do barco à deriva. A figueira, preguiçosa, se jogando na rede do vento, em folhas indo e vindo, serena.
Fico sem saber se lá longe, pra cá do horizonte, são as ondas ou as montanhas que se revolvem e se dobram, em formas tão sedosas, de dar gosto ao olhador. Finjo ver de um tudo; nas lonjuras, muito me escapa desse campo todo, que água e pasto se entremeiam num só. Quanto se conhecem, estes vastos panos, se esntedendo ao sol sem enrugar. Num macio atormentado pelo barulho do mar e o silêncio da terra, tento um passo adiante com os olhos, que é pr´um ver melhor.
Das encruzilhadas, mal sei contar. Parece que passei por uma ali atrás, antes da velha porteira. Ou seria a danada da arrebentação, que se atravessou na minha frente? Escolhendo trilhas, bem olhando o risco que o tempo faz no céu, me fui mar adentro...ou campo afora.
Betina Mariante Cardoso
fev/2001
Romolo Rossi
Uno psichiatra in giro per Roma
Una pausa del congresso, una mattinata libera, un gruppo di psichiatri, uno vecchio, sette o otto giovani. La mistura giusta.
Scendendo giù, verso il centro, dalle alture di Monte Mario, si ha sott’occhio l’immenso quadro topografico romano. Ma, ci chiediamo, dove sono i sette colli? Non si vedono quasi per nulla. Quando si è dentro, si notano alcune vie in salita, poi in discesa, poi in risalita (per uno che viene da una città come la mia, salite lievi, appena accennate) che ritmano il Viminale, l’Esquilino, il Quirinale: forse in bicicletta si noterebbero, soprattutto chi non è allenato, ma a piedi poco, in autobus, via! Ecco, come la personalità! Un tempo forse, fino ai primi mesi di vita, il temperamento, inteso come corredo biologico di fondo dell’uomo, si poteva vedere, ma dopo anni di relazioni infantili e adulte, di rapporti educativi, di eventi emotivi, di difese, resistenze, condizionamenti, chiamateli come volete, chi riuscirà più a vedere, nel risultato finale della personalità dell’uomo, gli originari di livelli temperamentali?Chi vedrà, nella tumultuosa, millenaria, stratificata topografia della Roma d’oggi, i colli originari, se qualcuno non glieli indica e non gli insegna puntigliosamente e un po’ artificiosamente a vederli? Se ne noterà appena qualcuno, i colli più rilevati, Campidoglio, Palatino, Aventino, i tratti più clamorosi, tendenza alla rabbia impulsiva, alla cupezza scostante, al bisogno impellente, il tutto avvoltolato nelle panie e nei travestimenti della personalità, della persona, della maschera, del comportamento civile. Ma chi vedrà la serotonina, che ci sarà pure, al fondo di tutto, in Anna Karenina?
E giù, immergendosi nell’antica città. Antica, detto di Roma, non vuol dir più nulla, millenni, secoli, culture, mondi diversi, antichità imperiale, alto medioevo, autunno del medioevo, rinascimento, scoppi di megalomania e di grandezza papale che di una modesta capitale rifanno una capitale del mondo, innescati da artisti anche loro megalomani e grandiosi, urbanistiche ordinate e solenni da capitale di una impettita nazione ottocentesca, confusioni di direttrici di traffico, fontane sontuose o civettuole ed eleganti di ogni epoca, gigantismo di una capitale burocratica odierna, luci, colori caldi, scenari onirici, periferie sinistre: come la mente umana, come la mente umana nell’età avanzata, così è la mente, come Roma, non come la città americana media, pulita, precisa, lucida, urbanisticamente ben suddivisa ed ordinata.
Ecco siamo in piazza Navona: il tempo di dare un’occhiata ai fiumi, il Danubio con l’insegna papale, il Nilo velato, che non vede le proprie sorgenti, il Gange, il Rio della Plata barbarico che si protegge con la mano dalla possibile caduta della facciata della Chiesa del rivale, l’odiato Borromini: ecco, rivalità, tumultuosità, rabbia, contorcimento, certo non un mondo alexitimico, ove la capacità di mentalizzare, di esprimere le emozioni con immagini e figure è sempre di alto grado, gesti impulsivi, discontrollo degli impulsi, un borderline forse? Così creativo, certamente non somatoforme, semmai qui impera la conversione!Non abbiamo tanto tempo, affascinati del temperare (come dire mescolare) ordine e disordine, lasciamo lo sguardo languido sulle curve della piazza, con l’improvviso flottare della sensualità (matrice, curve femminili, sarà l’obelisco l’erezione?) propria del borderline, ed eccoci, temperati e calmati dal rigore e l’ordine di palazzo Braschi, al maledetto torso di marmo, il Pasquino: maledetto!La libertà, la libertà di espressione, poter dire quel che si pensa, oh l’illusione, da sempre! La liberazione dal superio, il superio che si scioglie in alcol, il superio che si lascia al di là della frontiera, il superio che si lascia attaccato al torso di Pasquino e che ci crediamo di dileggiare, di sbeffeggiare, e ci illudiamo di ingannarlo con uno sberleffo, e di lasciar prorompere le pulsioni, le opinioni graffianti, il piacere: nunc est bibendum, nunc pede libero pulsanda tellus! Oh grande illusione di tutti i Pasquini che noi siamo! Solo una convenzione, il superio ci lascia un’area franca, carnascialesca, per quelle che chiamiamo pomposamente la libertà, e noi siamo convinti d’esser liberi! Va’, Pasquino, che sei un bel tipo! Sei tu il maggiore dei tiranni, il peggiore dei malfattori!
Ma siamo seri, come si fa ad essere liberi, quando si passa subito dietro piazza Navona, dall’altro estremo, e si vede nell’atrio di un moderno palazzo le rovine dello Stadio di Domiziano, quello che era la piazza una volta: e vediamo così chiaro l’inconscio. I residui antichi, ormai fuori gioco e fuori uso, ma che ancor oggi determinano la forma e l’estetica dell’impianto urbano, metafora di ciò che, profondo e arcaico, sotterraneo e in massima parte ignoto, mantiene e detta le forme generali, pur cambiando contenuti e strutture (l’amor per la mamma sta forse all’amor per la partner come lo Stadio di Domiziano sta a piazza Navona?).Come faccio a dire oggi che vado a passeggio per lo Stadio di Domiziano? Ma andrei a passeggio per piazza Navona se lo Stadio di Domiziano non le avesse mantenuto fascino, fama, bellezza? Ma cosa dico mai, dove mi porta questa città seduttrice e schernitrice, che figura mi fa fare, uno psicanalista da paese? Meglio tornare, coi piedi per terra, a Santa Maria dell’Anima, qui, dove da sempre si ospitavano i tedeschi, qui nessuno è estraneo, qui i tedeschi lurchi del medioevo hanno diritto di asilo, di essere accuditi, come tanti contenuti mentali, tanti vissuti, contrastanti, tormentosi perché stranieri, inusuali, di linguaggio diverso e ostico (oh, come sarebbe dolce quel linguaggio se solo lo si conoscesse!), tutti, tutti, possono essere albergati dentro la mamma e dentro la nostra anima, proprio così, Santa Maria dell’Anima. Quanti contrasti: giriamo appena l’occhio, ed ecco il movimento aereo e curvilineo, sensualmente trasgressivo e sinuosamente seduttivo del colonnato di Santa Maria della Pace, che si muove in modo provocante mentre noi avanziamo o arretriamo, o ci spostiamo di lato nella via: siamo a metà, tra la fantasia, l’irregolarità curvilinea e fantastica, l’instabilità sensoriale del barocco romano (Baccio Pontelli, o Scamozzi, non ricordo e non mi serve ricordare), e il numero aureo, la ferma e solenne armonia del rigore rinascimentale del chiostro del Bramante: l’arte, la bellezza, vengono fuori sia dalla trasgressione che dall’ordine, da entrambi, come la felicità. Ci sarà pure un sintesi, che mescoli la bipolarità, le curve euforiche, inquiete e trionfanti del barocco, e il rigore depressivo e ritmato ossessivamente del rinascimento, una mescolanza felice.Sant’Agostino è subito lì dietro: ahi, quella Madonna dei Pellegrini! Ma cosa voleva fare quel matto di Caravaggio con questi pellegrini, non gran signori ma poveri spossati contadini coi piedi sporchi, supplicanti e disperati davanti a quella Madonna, in posa seducente, con mosse leggiadre e vezzose, le unghie dipinte in un piede che si muove con civetteria? E’ solo aderenza alla realtà? Ma via! I poveri, sporchi, stanchi, affranti saranno bisognosi, di un bisogno che possiamo ben pensare come fame (bisogno orale, forse), trascurati e inaccuditi (quei piedi sporchi e piagati!), di fronte alla seduzione materna, di una madre trionfante col suo pasciuto bimbo sicuramente in braccio (Dio, figuriamoci!), ella stessa sicura di sé, con un aria di condiscendenza maliarda, con mosse da togliere il fiato, col piede leggiadro (quel piede, pulito ed adorno!). Ma chi ha mai detto che l’arte è sublimazione? Sarà tutto, l’arte, sublimazione e desublimazione. Qui impera la desublimazione, ciò che è religioso ridiventa erotico, per la soddisfazione del piacere, sadomasochistico, epperò piacere, ciò che è celeste ridiventa terreno, ciò che è metaforico ridiventa sensoriale. Uno sguardo appena, subito lì vicino, al Profeta di Raffaello, quello sì statuario, bellissimo, forma perfetta e interamente sublimata: vero profeta, perbacco!
E ora via, vi a di corsa da Palazzo Madama (con tutta l’ammirazione per la struttura solenne dell’edificio e per la tazza di pietra romana che ricorda imperi lontani), via dall’affollarsi di gente e dai cortei con le bandiere che protestano per chiedere cose che non otterranno mai, a signori che promettono cose che non potranno mai dare, e rifugiamoci nostalgici nella Chiesa del Re di Francia, dritti e poi, in fondo, l’ultima cappella a sinistra, il miracolo, il colpo a sorpresa, sorpresa che sempre si rinnova.
La taverna attraversata da una lama di luce, il colpo di maglio del vestito a righe del bravo, o bulletto diremmo, che si torce sulla panca a guardare, la mano ricurva di un Cristo che chiama dall’oscurità, una illuminazione (dentro e fuori della metafora) fulminante, che stravolge e cambia la vita, un soprassalto, una scoperta improvvisa dal fondo della vita psichica, un rivolgimento profondo in un attimo.
Solo Matteo e i due bravi (quanto diverse le persone!) se ne accorgono, troppo legati e attaccati a realtà diverse, materiali e concrete, gli altri due, per potersi guardare dentro. Ecco, ecco, i fattori aspecifici. Anche un mestiere come il nostro richiede tre qualità, per poterlo fare, qualità da niente, aspecifiche, che non si imparano, la possibilità di ascoltare l’altro, la possibilità di guardarsi dentro, la possibilità di sentire il soprassalto: come Matteo e i due bravi, come loro, così diversi, l’uno colto gli altri incolti, l’uno uomo posato, gli altri bulletti arroganti, ma così uniti dalle capacità di accorgersi degli eventi emotivi. Per farci perdonare l’immodestia, andiamo a S. Ivo, dentro il cortile di casa nostra (cosa nostra?) infine, l’Università: ma cosa ci fa, questa chiesa mossa e ancora curvilinea e ancora civettuola, con quella guglia audace, quella specie di Empire State Building ante litteram, quella cresta baldanzosa con aria di sfida, dentro il palazzo austero e rettilineo della cultura e degli studi? Era matto questo Borromini? O non aveva colto per caso, già allora, quel che di irridente e di irrisorio, di gioco infantile, di magico e irrazionale, di convenzione ludica che c’è nella ricerca, negli studi, nell’Università infine? Non si era per caso accorto dell’inganno, e stava invitando, con quell’architettura poco seria, di non prendere tutto sul serio?
Due passi, e il Pantheon ci toglie il fiato: oh il grande spazio! Sotto quella cupola che Michelangelo si adoprava di ricostruire sopra la chiesa di S. Pietro, non è lo spazio troppo grande? Non è una matrice che non ci tiene, che non ci fascia, non ci garantisce stabilità ma ci sbatte qua e la, per l’immenso vuoto, in attesa di essere sbalzati per il grande foro, noi e tutti gli dei che vi hanno vissuto, noi e i poveri sballottati re d’Italia? Tutti fluttuanti in questo enorme vuoto ideato dall’immenso impero materno, indifesi, piccoli, miserabili, senza amore, e chi l’ha capito è colui che ha stilato il distico della tomba di Raffaello, unico personaggio grande qui dentro contenuto; ha capito, quel signore, che la "rerum magna parens", la gran madre, temette, lui vivo, di essere vinta, lui morendo, di morire alla stessa: chi ha creato di più, l’arte o la natura? Ma se l’arte ha creato è stato per metterci ancor più in conflitto con la gran madre: sempre più alla deriva in questo spazio immenso, sempre più nevrotici. Ci ingannano, alle cose cambiano il nome, ma le cose rimangono le stesse: ce lo dice un passo più in là Santa Maria sopra Minerva, prima Minerva, poi la Madonna, una sull’altra: i potenti cambiano nome agli dei, ma la gente non se ne accorge, e prega sempre nello stesso posto. Cambiano gli usi, i costumi, i sintomi, le sostanze da dipendenza, ma l’uomo non cambia: a scorno di ogni etnopsichiatria e di ogni evoluzione storica. Ci consola il Cristo porta Croce di Michelangelo: se lo scolpiva quando era un ragazzino, quasi un adolescente, vuol dire che aveva la stoffa innata. Si licet magna componere parvis, può darsi che una stoffa speciale ci voglia anche per fare il nostro mestiere: ma questo l’abbiamo già detto, repetita….
Pochi metri ancora e, oh il simbolismo fallico! Perdono, perdono per la banalità ma come si fa a non pensarlo davanti alla Colonna di Marc’Aurelio: banalizzata e enfatizzata da un santo sulla cima, che io insisto nel pensare, forse mi sbaglio, che si tratti di San Giuseppe, poco adatto alla simbologia fallica, nonostante il giglio sul bastone, o proprio per questo: sarà la legge del contrappasso. Le scritte poi! Il culto imperiale, cancellato e vilipeso da un altro culto, ognuno affermando roboantemente che è giusto il suo: come effimere sono le credenze, e come labili e sostituibili le teorie scientifiche:
"Credette Cimabue nella pittura
Tener lo campo, ed ora ha Giotto il grido
Si che la fama di costui è oscura".
Ed eccoci, dopo la comparsa a sorpresa (l’eterna sorpresa!) di tante apparizioni tra le piccole strade, non si sa mai cosa può comparire, per esempio la fontana di Trevi, eccoci sul Quirinale: macchè Quirinale, monte Cavallo, il vecchio Cavallo, il vecchio Es di Freud che numerosi Ego, boastful and bombastic dicono gli americani, hanno cavalcato, come la mente dell’uomo, dall’infanzia all’adolescenza, all’età adulta alla vecchiaia, imperatori, papi, re, presidenti, ma è difficile che il Cavallo dell’Es, uscito da sotterra come il Cavallo dei Dioscuri, con un obelisco che viene dai tempi dei tempi (filogenesi dell’Es), è difficile che si faccia cavalcare da qualcuno senza sgroppare, imbizzarrirsi o, per contro, statuizzarsi e impietrirsi in una immobilità senza speranza.
Bisogna tornare ora, verso via delle Quattro Fontane, ed eccolo lì, S. Carlino: e bravo Borromini, che riesce a farci vedere cosa può stare dentro un pilastro. Fammi una chiesa, gli diceva il Papa, che possa essere contenuta in un pilastro del cupolone: che spazi si possono trovare dentro, quanta ampiezza in ciò che sembrava stretto e impervio, senza vuoto contenitore. Ma come si poteva sapere se non si provava a farci stare dentro addirittura un’altra chiesa? Un bello scacco ai nostri pregiudizi. Cosa si può trovare in una mente che avevamo giudicato limitata, quante cose ci sono sotto la malattia mentale!
Fine della passeggiata, gettando uno sguardo nostalgico al Tritone del Bernini, al mostro marino con la cornucopia in mano, così almeno lo vedo io, arbitrariamente non una buccina, ma cornucopia, il mostro che è la nostra pulsionalità che non possiamo mai permetterci, per il tributo troppo alto, in moneta pulsionale, da pagare al vivere civile. Non ci rimane che essere mestamente laboriosi, come le api della piccola fontanella, vicino al Tritone, all’inizio di Via Veneto. Ah Roma! Sei tu la donna più bella del mondo, entrare dentro di te è un piacere che confonde, e si rischia di non ritrovare più l’uscita. Taxì, taxì! Diceva una vecchia canzone, il mio amore finisce qui.
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ROMOLO ROSSI
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Rara Observação


E havia o moço, a quem tanto agradava fitar, profundamente, o único quadro daquela parede. Era pintura nebulosa e clara. Vezes, incidindo a luz, via rostos, expressões, pensamentos. Nuvens, apenas. E a perversa sombra da ironia.
Fitava o quadro, aturdido entre cores. Não só. Movimentos, mudanças na textura da tela - ora espessa, irregular, ora lisa. E com mais viço, como recém-pintada. Intrigante era a acomodação dos homens nas cadeiras, sugerida nos contrastes. Não conheciam o que pudesse haver fora daquela pintura, nem sequer sabiam habitarem tal obra. Sabiam só certo desconforto, como o de quem é profundamente observado.
E lá o moço. Tantos olhares e cada vez mais. Quando não fitava, imaginava, reproduzindo as sensações. A moldura, traiçoeira, apagava-se da idéia. A real, em marfim, fios dourados e dobras precisas, como moldadas de propósito, em contornos minuciosos. Clara, contrastava com a cor de vinho tinto seco da parede - parecia um eterno lançar-se dali. No escuro do quadro, movimentos e expressões. A moldura, sempre soberba em torno da tela, atirando o expectador naquele espaço de sombra e interrogação.
Ainda assim, era cena interessante, que inundava o moço. Quantos viam a pintura, mas a cena parecia privilégio seu. Admirava por manhãs e tardes, sob diversas luzes. Impressionismo tão nublado, que só fitando além do seu interior para descobrir alguma nitidez nos traços.
Dia, de tão especialista na obra, pôde enxergar, nos homens, movimentos labiais, emitindo vocábulos, risos. Era momento novo neles, tão sisudos e argutos. Num jeito de olhar, o moço parecia seguir a conversa.
O aroma da pintura, entre o desconforto e a agradável sensação do nebuloso, mais intenso. Como ainda úmida a última retocada. E o moço imerso na cena. De tão imerso, já na conversa. Sim, foram tempos de profundas observações. Agora sabiam os homens terem sido perscrutados. Não pareciam desgostosos: ficaram à vontade, como em mesa de bar.
Os homens, menos sombreados, ali.
Surpreso, o moço, de tanto olhar o quadro, chamado a pular pra dentro. E foi. Nem bem entrou, pôde ver claros os rostos antes nublados. E de tão claros, perdiam-se os contornos. Ora, faces desenhadas por lápis de ponta muito fina e cor forte, com narizes e queixos definidos; ora, imagens aquareladas, como sendo vistas pelos olhos depende de quem vê.
E lá de dentro o moço via, mais salientes, as sutilezas daquela obra. Não bastou pular para o quadro: foi sentar-se com os homens, o moço imerso nas tintas, para ver, de lá, o próximo convidado.

Betina Mariante Cardoso
nov/99
Equinócio.
Ócio
De Primavera.
Espera.
De flores.
De Ventos.
De Ardores.
Quimeras...

Tempo.
De cores.
De riscos.
De brisa.
Tempo.
Que passa.
Que venta.
Que tenta.
Que gira.

Que Arde.
Que amanhece.
Que florece.
Quermesse.
Equinócio.
Ócio
De Primavera.

set/04
Foi uma das primeiras responsáveis pela minha escrita: Fernanda Lopes de Almeida, autora do livro A fada que Tinha Idéias. Mas não só pela escrita...A Clara Luz, fadinha danada que percorre as páginas da história, inventa moda: "Quando alguém inventa alguma coisa o mundo anda, quando ninguém inventa nada o mundo fica parado, nunca reparou?"
A partir dali, fui de um inventar a outro, descobrindo que o mundo anda é assim, mesmo. Esse é um espaço de estórias, invenções e temperos, na medida certa. Que nas panelas também descobri que inventar é alquimia. Escritas, temperos e teares. Tecendo, inventei de misturar isso com aquilo, uma cor com outra e fazer explodir. Como a Clara Luz, com os "bolinhos de luz" ( receita: 250g de raios de sol, 250g. de raios de luar, uma colher de chá de fermento de relâmpago. Maneira de Fazer: mistura-se bem os raios de sol e de luar, até saírem faíscas. Junta-se então o fermento de relâmpago." )
...E algo que ainda quero experimentar são aquelas "aulas de horizontalogia", que desde pequena fazem parte do meu imaginário. Então, dei um pulo aqui, pra mais um dos horizontes.
Carpe Diem.