Chimarrão
Hélio Moro Mariante
Oh!Filtro misterioso e ardente!
De solilóquios companheiro.
Teu convívio tão prazenteiro,
Transforma- te em meu confidente.
Ao sorver-te alegre ou triste,
alio aos meus sentimentos
alegrias, desalentos
tudo que em minh´alma existe.
Na eloqüência do teu mutismo
colho a censura com humildade,
recebo o aplauso sem vaidade,
teus conselhos com altruísmo.
Velha herança Guarani!
Oh! Meu mate-chimarrão!
Agri-doce infusão
Que reassume até:
amizade,
amor,
fé.
Homenagem a Hélio Moro Mariante, meu avô, que, imagino, digitou este poema em sua máquina de escrever verde, daquelas antigas, na mesa de fórmica da cozinha. O som das teclas, o cheiro de tinta da fita, o barulhinho do mecanismo circular que passava a folha, tudo inundava-me. Misturados com o cheiro da erva-mate, do salame cortado em fatias, do pão tostado, da manteiga Aviação. O aroma de suas histórias, a lonjura a que portava sua voz, seus olhos vívidos na folha branca, o folclore de su figura. O vô Hélio e a máquina de escrever,verde-alguma-coisa, pareciam pertecer-se, como se o teclar fosse seu ofício de ventríloquo.
Lembro-me do verde-azeitona de suas vistas, mirando a imensidão da página com a satisfação, de si para si, de novas palavras tingidas nos campos brancos a que se aventurava.
Sério, comtemplativo. Mariante, à deriva na folha branca.
Betina Mariante Cardoso
04/02/2007
No comments:
Post a Comment