Sunday, February 25, 2007

PALMAS NO PICADEIRO

Betina Mariante Cardoso

Chamei o paciente à porta, pelo nome. Ele, passos largos desde o banco do corredor à fria sala de consultas. Nos lábios, uma expressão enfadonha. Além, um olhar vago, como de quem avistasse cenas suas, apenas. De seus cinqüenta e poucos anos, calculei. Eu perscrutava, atenta, sua fisionomia sem viço e a pele branca, de uma textura feito cera, em tom pálido. Cabelos cheios, já com alguns fios de tom cinza. Desgrenhados, como um desleixo à sua figura. Bochechas fartamente preenchidas, com a queda natural do tempo. De formas indefinidas, talvez do desgaste pelas intempéries, o semblante lembrava um baú de guardados.
Fechei a porta. Antes que eu o convidasse a sentar, fitei-o, silenciosa, com discreta curiosidade. Instigavam-me seu cenho cerrado e a voz baixa, as poucas palavras na saudação, certo olhar de poucos amigos. Nas feições, as saliências que a memória imprime. A testa riscada a lápis, tão nítidas as rugas. Eu, incapaz de traduzir seu rosto.
Sentia-me pequenina frente à sua soberba. Alto, de compleição robusta, braços de contornos grosseiros. Aperto de mãos, sim. Forte, todo o peso do corpo nos ossos dos dedos. Homem de pouco sorriso, já se via.
Fiz gesto, com a mão espraiada, que se acomodasse. Sentou-se, gravemente. Pachorrento, ocupou toda a cadeira. Com ela, compunha uma unidade, imóvel em seus gestos. Parecia parte do inanimado. Mal abria os lábios para falar, e os olhos permaneciam mirando um horizonte só seu. Tronco e membros em conluio com a inércia da face.
Passei às perguntas, motivo da visita, sinais e sintomas médicos, questionamento formal. Suas falas quebravam o silêncio por segundos, respondendo e calando-se, como escutando, num outro plano, as próprias histórias.
Interroguei, por primeiro, dados de identificação. Circense. Resposta seca, áspera, tom de orgulho. Título que respondia pelo nome, idade, profissão, naturalidade e procedência, estado civil. Circense, repetiu em tom definitivo, ao meu olhar perplexo. Um silêncio me paralisou, e escrevi a informação em sua ficha, num pisar lento da caneta sobre a folha. Não poderia imaginar. Circense?, repeti, em dúvida. Ele completou, firme: cômico. Cômico de circo. Pareceu irritado com minha pergunta, fosse óbvio seu ofício, só pela figura.
Como na chegada, mirei, insistente, seu paradoxo. Não havia, naquelas feições, algum dado que me remetesse à imagem de um cômico de circo. Palhaço, ele afirmou, talvez percebendo minha hesitação. Cavoquei, nos meus registros de criança, a imagem do palhaço. Não era aquela. Tentei imaginá-lo no auge da mocidade, nem assim. Colocava suas formas no papel do domador de leões, quem sabe. Enquanto eu percorria meu interrogatório, o descompasso me instigava. Não me era possível desenhar-lhe as nuanças. Faltava-me algum dado, um pedaço da história fugia-me.
Minha atenção oscilava entre a escuta e as idéias sobrevoantes de criança. Olhos arregalados, tentando ater-me aos cuidados com sua saúde. Perguntas precisas, respostas das quais nem lembro. Sondava, em sua máscara imóvel, minhas lembranças, como querendo acreditar no inusitado que me afrontava. O homem respondia contrariado os itens formais, conforme eu avançava. Remédios, doenças. Palpitação?, indaguei-lhe. Ele continuava ao longe, como imerso em suas histórias. Tive vontade de entrar também, fechar os olhos, ouvir a música que anunciava o início do espetáculo, sentir o som da pipoca estalando entre as filas de espectadores.
Nessas alturas, as questões médicas ficaram, pra mim, em segundo plano. Deitei a caneta ao lado da folha, desliguei-me da hora. Quis ouvir, na voz farta, as peripécias do sujeito. A luz branca da sala me impedia de figurar o chão de terra, as luzes coloridas, a tenda amarela. Tentava, com todos meus sentidos vivos, tocar a cena. Ele, nenhum sorriso, sequer esboço. Seus olhos, no entanto, me convidavam à arquibancada. Eu, sem saber bem por que, passei ao picadeiro. Palhaço sem mímica, mais me assustava.
Feito menina de meus cinco anos, suja de algodão-doce, me confortei no assento de plástico das fileiras. Esperava o início do espetáculo. Sentia-me, ali, parte do RESPEITÁVEL PÚBLICO!. Começou a contar-me da vida itinerante, entre dias ébrios, outros melancólicos. Vezes, largava o público, puro enfado de sorrir tanto. Apresentou-me seu personagem.
Desde sempre, palhaço de circo. Nasceu naquele redondo de terra, quando a mãe deu-lhe existência, perdendo a própria. Gorda, mais ainda pela gravidez, largava-se na vida mundana, com a criança na barriga e tudo. Vestidos largos, soltos. Risada frouxa. Bebidas, farras, paixões tortuosas. Todo jeito de cigana, lia a sorte. Mal inexplicado, cerrou de súbito os olhos. Sem testamento. Sem pai conhecido. O menino foi salvo no parto, criado na vida mambembe. A história da mãe construída em mosaico, contada lá e cá, pedaços faltando.
Virou o mundo, disse. Caretas, tombos, cambalhotas. Saltos do globo da morte, piadas, deboches de gentes conhecidas. Fez de tudo. Mostrou-me marcas de luta travadas com animais ferozes, recordou-se de sua destreza com os malabares, contemplando, ao longe, sua própria imagem.
Cenário montado, luzes poucas, olhos expectantes. Iniciava a noite com suas peripécias, era o que mais gostava. Risos muitos que despertava em crianças e adultos, avós, babás. Histórias que tinha para si. Eu escutava, apenas.
A atmosfera do picadeiro trouxe à consulta a tonalidade de suas reminiscências. Cômico, dizia ele, em tom sério, respeitoso, honrado. Enquanto a voz rouca já tingia a sala de cores vivas, eu mirabolava percursos, personagens outros, largas horas de circo. Rodopiava com ele pelos giros do tempo.
Momento, tudo silenciou. Então, éramos outra vez nós dois, ali, sem qualquer outra iluminação, senão a luz branca, fluorescente, séria, da sala de consultas. O homem fitou-me, severo. Nenhum som, apenas aquele da gravidade de seu olhar. Desviou-se, mirando um ponto na parede, sem nada dizer. De pronto, a voz grave tomou-se de fantasia, esboço de sorriso.
-Naquela noite, decidi surpreender a todos expectadores, colegas, até ao picadeiro. Não contei a ninguém, reservei a mim mesmo o deleite da produção. E iniciei, sem música, pleno silêncio, o espetáculo. Percorri o círculo de terra montado em nosso elefante, de um cinza claro, soberano. Eu, de branco, todo branco. Figurino, maquiagem. Vestia um chapéu sóbrio, da mesma cor, com uma fita preta de cetim em seu detalhe. Podia escutar os murmúrios da platéia, as palmas que iniciavam a tocar, gritos clamando meu nome, o clec das palmas aumentando, até tomar toda a tenda, a quadra, todo o ar. Imponentes, mantínhamos a incógnita, enquanto o som retomava a calmaria. E então veio o silêncio. Quando abri os lábios para apresentar a noite, quem falou foi o elefante, qual ventríloquo, voz estranha, retumbando em tom alto, fazendo-se ouvir. De mim, nenhum som, era como se ele adivinhasse minhas falas, minhas piadas, meus deboches. Roubara-me o espetáculo. O público voltou a bater palmas, e tantas, ao número que dava início ao circo, sem saber que a mim também era surpresa tal inusitado. E a noite transcorreu com seus trapezistas, malabarismos, brincadeiras, engolidores de fogo, mulher barbada, e a perene seqüência da programação, toda apresentada pelo animal.
Eu, em silêncio. O sujeito seguiu, fitando meus olhos, pedindo, com a mirada, que eu acreditasse em seu relato.
-Dali em diante, meus lábios abriam, mas, perplexos, não emitiam voz. A minha voz. Destino infeliz o meu, Doutora. Descobrir tal dom fez-me sentir palhaço de mim, surpreso por minha própria invenção. Voltei a falar, sim, mas vez que outra a maldição me prega uma peça, e a fala não sai de minha boca, mas de algum objeto. Ventríloquo? Em toda essa vida nunca tive este papel no circo, e apresentar o espetáculo era minha intensa paixão, que nem consigo mais desempenhar com apreço. Volta e meia, em casa, na tenda, em qualquer parte, ouço meus pensamentos saírem por outro veículo, que não meus lábios abertos. Poderia, agora, silenciar, e esta cadeira preta, solene, falaria por mim, dizendo toda sorte de desvairios, tomando-se de vida própria. Já não sei se é maldição, dom ou loucura.
O homem deixou correr algum choro em seus olhos, pálidos de realidade. Entristeci. A avaliação médica tomara-me do passeio lúdico, enfim cogitei a hipótese diagnóstica. Loucura, sugerida por ele em seu devaneio. Seguiu em seu delírio, narrativas ricas em fantasia, solilóquios, lembranças que desejaria ter. O rosto, no entanto, bem sabia que as histórias eram apenas suas, sem palco. Sem palmas.

Saturday, February 24, 2007

Alcune parole sul San Valentino
Storia di San Valentino
Per gli antichi Romani Febbraio era considerato il mese in cui ci si preparava all'arrivo della primavera (ritenuta la stagione della rinascita).Si iniziavano i riti della purificazione: le case venivano pulite e vi si spargeva del sale ed una particolare farina. Verso la metà del meseiniziavano le celebrazioni dei Lupercali (dèi che tenevano i lupi lontanodai campi coltivati).I Luperici, l'ordine di sacerdoti addetti a questo culto, si recavano allagrotta in cui, secondo la leggenda, la lupa aveva allattato Romolo e Remoe qui compivano i sacrifici propiziatori. Il sangue degli animali veniva poi sparso lungo le strade della città, come segno di fertilità. Il vero "evento" per la gioventù romana di allora era però una specie dilotteria dell'amore. I nomi delle donne e degli uomini che adoravano questo Dio venivano messi in un'urna e opportunamente mescolati. Quindi un bambino sceglieva a caso alcune coppie che per un intero anno avrebbero vissuto in intimità affinchè il rito della fertilità fosse concluso. L'anno successivo sarebbe poi ricominciato nuovamente con altre coppie.Nel 496 d.C Papa Gelasio annullò questa festa pagana sostituendola con quelladi san Valentino vescovo, martirizzato dall'imperatore Claudio II in quanto univa in matrimonio giovani coppie alle quali l'imperatore aveva negato il consenso. Prima della sua esecuzione, Valentino che si era innamorato dellafiglia del suo carceriere, le scrisse una ultima lettera firmandola "dal tuo Valentino" frase che è arrivata fino ai nostri giorni. Nonostante siano passati tanti secoli, questa festa ha sempre mantenuto il significato di celebrare il Vero Amore. Le vicende riguardanti San Valentino sono abbastanza confuse, ma intorno alla sua figura ruotano molte leggende, che hanno senz'altro uno sfondo di verità, e che riguardano tutte episodi d'amore.

14 Febbraio
Conosci l'origine della storia di San Valentino?
La leggenda
... il tentativo della Chiesa cattolica di porre termine ad un popolare rito pagano (per la fertilità), è l' origine di questa festa degli innamorati.
Fin dal quarto secolo A. C. i romani pagani rendevano omaggio, con un singolare rito annuale, al dio Lupercus. I nomi delle donne e degli uomini che adoravano questo Dio venivano messi in un'urna e opportunamente mescolati. Quindi un bambino sceglieva a caso alcune coppie che per un intero anno avrebbero vissuto in intimità affinché il rito della fertilità fosse concluso. L'anno successivo sarebbe poi ricominciato nuovamente con altre coppie.
Determinati a metter fine a questa primordiale vecchia pratica, i padri precursori della Chiesa hanno cercato un santo "degli innamorati per sostituire il deleterio Lupercus. Così trovarono un candidato probabile in Valentino, un vescovo che era stato martirizzato circa duecento anni prima.
La leggenda
A Roma, nel 270 D. C il vescovo Valentino di Interamna, (oggi è la città di Terni), amico dei giovani amanti, fu invitato dall'imperatore pazzo Claudio II e questi tentò di persuaderlo ad interrompere questa strana iniziativa e di convertirsi nuovamente al paganesimo. San Valentino, con dignità, rifiutò di rinunciare alla sua Fede e, imprudentemente, tentò di convertire Claudio II al Cristianesimo. Il 24 febbraio, 270, San Valentino fu lapidato e poi decapitato.
La storia inoltre sostiene che mentre Valentino era in prigione in attesa dell'esecuzione, sia "caduto" nell'amore con la figlia cieca del guardiano, Asterius, e che con la sua fede avesse ridato miracolosamente la vista alla fanciulla e che, in seguito, le avesse firmato il seguente messaggio d'addio: " dal vostro Valentino, " una frase che visse lungamente anche dopo la morte del suo autore...".

Sunday, February 04, 2007

À GRANEL
Fui ao Armazém de Secos e Molhados, cedo esta manhã, comprar 100g de reticências, que já tinha terminado o pacote. Um senhor gentil, atrás do balcão, me recebeu, austero. Já de certa idade, parecia.Óculos abaixo dos olhos, lápis na orelha, bloquinho de ‘pendurados’ abaixo do braço.Engordado pelo tempo e os maus hábitos, algum desleixo. Semblante intenso, marcado pelo bigode em desalinho, suas vistas negras e sobrancelhas fartas.Sotaque português, tênue denúncia de sua origem. Voz ora suave, ora áspera. Expressão de burocrata, assumia tom de importância, postado frente à máquina registradora. Ar de quem nasceu entre as mercadorias,tão conhecedor. Respondeu ao meu pedido, tom evasivo, suspiro de enfado. Sorriso comedido. Algo nele me intrigava, nem sabia bem o quê. O homem contemplava seu negócio feito dono de antiquário, orgulhoso de suas virtudes de sabedor. Espichou-se na explicação sobre o legado do avô, que lhe ensinou o ofício de dono de mercearia. Cuidava que a vizinhança freqüentasse a casa. Após toda a propaganda, seu Teotôniorespondeu ao meu pedido pela pontuação. Eu, àquelas horas, já impaciente. Queria as reticências, e pronto!
-Reticências só na semana que vem. Encomendei, mas tem muitos pedidos na frente.Tem que deixar o nome, pra reserva. O lote é pouco. Pontos de interrogação, então, prometeram só para mês que vem, que esgotou o estoque do fornecedor. Todo mundo pedindo. Tem saído muito. Tem 'dois pontos', quer? Pensei. Não sabia bem onde usaria, e pra levar 'dois pontos' tem que ser de meio quilo, ele advertiu.Nem sabia explicar o motivo. Tive impressão de que era para fazer bom negócio.
Resolvi perguntar por ponto-final, ele disse que estavam na estante do fundo, acreditava que tinham passado da validade. Iria buscar. Eu, ansiosa à sua espera, batia com a polpa dos dedos uma música qualquer na madeira gasta do balcão, enquanto ele procurava nas sacas de juta. Gritou, voz cáustica, lá de trás das prateleiras:-Faz tempo que o pessoal não compra, ficou lá. Mas era até dezembro. Venceu há tempos. Vou ter que jogar fora e encomendar de novo.-E exclamação?-Eu tinha no estoque, ficavam nas sacas de algodão. Esses dias veio uma dona cheia de caprichos, e levou tudo.Contemplativa, cogitei:
-Virgulas?
-Não tem. Todo mundo leva pra ter em casa. Pausas curtas, sabe como é. Um jeito de continuar a frase, um suspiro, nem sei. Vai que precise? Mas lamento, faltou.
Eu não estava ali por qualquer pontuação, tinha ido buscar reticências. Ele, ponderado, parecia. Com a cabeça inclinada. Professoral, arrastou um comentário:
-Todas as receitas cheias de firuletes, ‘comprar reticências frescas’, ‘deixar em banho-maria’, ‘preparar em fogo baixo’, ‘cuidar para não dissorar’, ‘despejar na panela com pacimônia". Já vi muito freguês perder a compra por não ter lido bem as indicações. E mais: devem ser usadas no dia, isto sim, mas o sabor fica por tempos infiltrado na preparação. Salpicar, de leve! Sua presença vai adquirindo personalidade aos poucos, não pode tomar conta do prato principal.
Pensei então em qualquer outra, menos procurada. De receita mais fácil, algo pra descongelar, e servir. Sem firulas.Ponto-e-vírgula ele me disse que tinha que importar, não tinha aqui. A estas alturas, queria era levar algum pacotinho dali, fosse o que fosse. Caminho longo, a pé, pra retornar de mãos vazias.-...Ponto-e-vírgula?... Ninguém usa muito, sabe como é. Pouca serventia. Acabo investindo naqueles mais procurados, como os três-pontinhos. Já aconteceu até de me fazerem abrir as sacas de pontos-finais e pedir pra levar três. Fica mais caro, levam mesmo assim. Dizem que têm de serem compradas no dia, para usar. Por isso acabam logo. Sobram pontos-finais, que ninguém leva, acabam fora da validade.Curiosa, olhei para os potes de vidro, em cima do balcão: vários travessões. Recipientes volumosos, tampa de alumínio. Ali, feito aquelas balas coloridas da infância, que o dono pegava às mancheias pra depositar no saco plástico, os travessões.
-Ninguém mais leva travessão, nessas épocas, minha senhora. Pra levar travessão tem que saber usar, só vendo no mínimo dois, e então o freguês deixa ali.Seguiu tergiversando. Voz arrastada, um jeito ruminativo. Mesmo tempo, soberba de velho negociante.-Todo mundo fala sozinho, mesmo. Estão naqueles potes há horas. Tem mais uma coisa, ficaram os dois pontos também, que vendo junto, mas sobraram do ano passado. Dois pontos e travessão sempre restam, esperando alguém que queira conversa. São caros, vendidos à granel, e a medida nem sempre é exata. Um travessão a menos e a conversa fica pendurada.Avistei os dois-pontos em pote semelhante, de vidro, redondo, a tampa clara. As balas de todas as cores, gosto de framboesa, uva, laranja. Não, não eram doces.Pensei em parênteses. Indaguei-lhe.-Precisa de um certo tom de gravidade, um tom de confissão, justificativa. Nem sei. Complicado.Aspas, quem sabe, cogitei.-Difícil sobrar. É muito procurado pra citar alguém, usar palavras dos outros, chega todos os dias no carregamento, mas sempre tem gente que vem e leva tudo de uma vez. Estou sempre pedindo. Amanhã já chega para o estoque da semana. Pra levar, tem que vir cedo.Sem saber o que fazer, encomendei 500g de pontos de interrogação, do que chega no próximo mês. Uso um pouco e deixo o resto no armário. Vale a pena, disso estou certa. Fui andando, sem meu pacotinho de reticências para a receita do almoço. Levei uma quantidade razoável de dois pontos-travessão, dos que estavam ali nos potes, e ainda na validade. Sempre é bom ter em casa.
Betina Mariante Cardoso
Chimarrão
Hélio Moro Mariante
Oh!Filtro misterioso e ardente!
De solilóquios companheiro.
Teu convívio tão prazenteiro,
Transforma- te em meu confidente.
Ao sorver-te alegre ou triste,
alio aos meus sentimentos
alegrias, desalentos
tudo que em minh´alma existe.
Na eloqüência do teu mutismo
colho a censura com humildade,
recebo o aplauso sem vaidade,
teus conselhos com altruísmo.
Velha herança Guarani!
Oh! Meu mate-chimarrão!
Agri-doce infusão
Que reassume até:
amizade,
amor,
fé.
Homenagem a Hélio Moro Mariante, meu avô, que, imagino, digitou este poema em sua máquina de escrever verde, daquelas antigas, na mesa de fórmica da cozinha. O som das teclas, o cheiro de tinta da fita, o barulhinho do mecanismo circular que passava a folha, tudo inundava-me. Misturados com o cheiro da erva-mate, do salame cortado em fatias, do pão tostado, da manteiga Aviação. O aroma de suas histórias, a lonjura a que portava sua voz, seus olhos vívidos na folha branca, o folclore de su figura. O vô Hélio e a máquina de escrever,verde-alguma-coisa, pareciam pertecer-se, como se o teclar fosse seu ofício de ventríloquo.
Lembro-me do verde-azeitona de suas vistas, mirando a imensidão da página com a satisfação, de si para si, de novas palavras tingidas nos campos brancos a que se aventurava.
Sério, comtemplativo. Mariante, à deriva na folha branca.
Betina Mariante Cardoso
04/02/2007

Saturday, February 03, 2007

NEL BUIO
Il Giorno di Domenico non è stato la Domenica, ma il Lunedì...Non è nemmeno stato un giorno di sole: pioveva. Nemmeno un giorno, ma tardi alla sera. Non in qualche caffè della città, ma per strada, mentre io tornavo a casa dopo un paio di ore di far- niente.
Comunque, sarà sempre il Giorno di Domenico il 14 Giugno. Camminavo in fretta, erano già le dieci di sera. Prima, magari. C´era il buio. Camminando, ho visto qualcuno che veniva indietro. Spaventata, io? Camminavo, senza fermarmi. Il qualcuno lì, camminava anche lui. Ho passato dal marcipiedi, lui pìu prossimo. "Non sei Italiana, vero?"
Così, ci siamo conosciuti, nel buio. In pochi minuti,tante parole. Napoletano, lui. Io provavo di capirlo e di parlare l´Italiano, in mezzo al mio spavento. "Prenderesti un caffè, con me, qualche giorno?", ha detto lui, giusto all´angolo. "Si, Volentieri!", gli rispondo. Abbiamo cambiato dei recapiti uno dell´altro. Avevo un pezzo di carta, piccolino così, dove, ricorderò sempre, ha scrito il suo telefono. Non ce l´ho più, purtroppo. Soltanto il ricordo del momento. Il numero, lo guardo in memmoria.
La sera presentava un´aria fresca, veniva voglia di non tornare a casa. Guardare il Lungarno, seguire la mia caminata.
Pensieri su questo futuro caffè, lentamente,mi facevano già personaggi di una storia da raccontare.
Nell´incroccio fra Via Santa Maria e Lungarno Antonio Pacinotti, io sarei andata a sinistra, abitavo lì vicino; lui, a destra. Così, ci siamo salutati: "Ciao!" , "Ciao!"
Nel pommeriggio del 17 Giugno, Giorno Festivo a Pisa. San Ranieri. La serata prima è stata la Luminara di San Ranieri, nei Lungarni Pisani. Delle luci delle candelle portando tutti alla fantasia. Lui mi scrive invitando, lo rispondo di sì.
Ancora pommeriggio, ho caminato sola, guardando la Festa. Una bella giornata, quella...C´era sole, i dolci- un dolce di mandorle, dopo una granita di menta- la gente, dei palazzi dei Lungarni, in tanti colori diversi...
L´Arno, alle sei di sera, era già d´argento, bellissimo, ricevendo la Regata. Ed io, mentre guardavo, pensavo su di tutto. Pensavo a Domenico, in cosa si parlerebbe, se me la caverei bene con l´idioma. Nei dubbi, sull´Arno, sul buio che arrivava, piano piano. Pensavo a Napoli, a Pisa, a Porto Alegre. Pensavo a me. E anche a quanto era bello l´Arno nel tramonto! Quello non vedrò uguale, lo so.
Mi ha detto lui: "Ci troviamo alle 21:30, nella Via Santa Maria, dove ci siamo conosciuti. Poi, andiamo al Caffè.", ascoltavo, mentalmente, vistita in blu.
Mi ricordo dei nostri abbigliamenti, il colore della sera (c´era già meno del buio dell´altro giorno, il Giorno di Domenico, oppure ero io meno spaventata...). Lui è venuto subitamente a salutarmi, non l´avevo visto prima. E ci siamo andati a camminare un accanto all´altro. Mentre camminavamo, abbiamo fatto pìu di due chiachere...ma tante...Parlavamo, caminavamo, fra un riso e l´altro. Dicevo, sbagliandomi:"Como?", quando non capivo qualche espressione diversa.
E, uguale a tutte le storie d´amore, le chiacchere sono finite con un bacio. Un grosso bacio, nel Lungarno Pacinotti. Bello!
Racconto prima: stanchi di caminare, ci siamo seduti nella Piazza del Vettovaglie- dopo un lungo percorso- a prendere qualcosa da bere...Lui, un caffè...Io, la Coca-Cola...Pìu lunga, per dare alle due chiacchere una durata anche più lunga. Per dare ai miei pensieri ed al mio spavento un tempo lungo quanto la lunghezza della nostra caminata, quanto la lunghezza del bichiere di Coca, quanto la lunghezza del mio desiderio, ma anche dei miei dubbi. Lo guardavo, e guardandolo, ho percepito i suoi occhi neri. Lì, c´era il buio misterioso della serata del Giorno di Domenico. Lí, mentre provavo ad indovinare cosa c´era indietro a quelli occhi scuri, mi è venuto in mente il cancello del Palazzo Agostino, dove abitavo. Così scuro, misterioso, così nel buio, come gli occhi di Domenico, che non troverò mai uguali, così intensi.
Via Santa Maria, Ponte Sofferino, Lungarni, Corso Italia, Ponte di Mezzo, Borgo stretto, Piazza del vettovaglie, Lungarni, Piazza Carrara, Piazza Dante, Lungarno Pacinotti, Lungarno Pacinotti, Lungarno Pacinotti...E tante belle parole. L´ accento napoletano: bello, marcato. "Devi sentirre il tuo cuorre".
Mi ha insegnato la differenza fra Buongiorno e Buona Giornata...
E tanti baci.
Ci siamo fatti un saluto amaro, nel fine di un paio di giorni. Prima, Via Santa Maria; mentre, il corso del romanzo; alla fine, l´amaro di un saluto triste. Perchè, non saprò mai. Magari sarebbe un saluto ancora pìu triste se fosse proprio alla fine, proprio quando sarei andata via.
Non saprò mai, oppure posso indovinare tante fine diversi...
Mesi dopo, ho preso un´aereo a Roma.Lui, un treno. Un bel ritrovo, tante chiacchere, tanti baci, tante da dire. Nel´arrivederci, "ci vediamo l´anno prossimo!" Ed il mio pianto, mentre mangiavo un risotto al formaggio. Purtroppo, non sono pìu tornata. E non ci siamo pìu visti.
Per tante volte, ci siamo sentiti.
Oggi, penso come fosse un libro di racconti, dove ogni storia ha il suo fine, e la prossima la segue, e così vìa.I nostri recapiti telefonici, ce l´abbiamo ancora. Ascoltarlo dire "Bella!" fammi sempre tornare alla prima pagina...
Betina Mariante Cardoso
Ago/2004
Feb/07